Artigo – Semana de conscientização sobre mudanças climáticas: hora de parar e refletir
  • Post publicado:20 de março de 2025
  • Categoria do post:Meio ambiente

Nas últimas décadas temos observado uma crescente preocupação sobre as mudanças climáticas. Estatísticas internacionais apontam para uma elevação global de temperatura média na faixa de 1,5 ºC acima do período pré-industrial. Para uma análise climática, devemos trabalhar com uma série de dados de, no mínimo, 30 anos. Para o município de Chapecó, no Oeste Catarinense, é possível observar que nos últimos 30 anos (1991 a 2020) a temperatura ficou 0,85 ºC acima do registrado no período de 1961 a 1990:

Comparativo da temperatura média da estação de Chapecó entre os períodos de 1961 a 1990 e de 1991 a 2020 (INMET 2025)

Esses dados indicam uma tendência de aquecimento, pois em 60 anos de registros, em dez dos doze meses do ano a temperatura ficou acima da média registrada no período anterior. A análise detalhada permite concluir que, nos últimos 30 anos, a temperatura média, nos meses de abril, agosto e setembro, chegou a 1ºC acima do registrado entre as décadas de 1960 a 1990. Já nos meses de maio e junho a temperatura ficou levemente abaixo da média, com -0,2Cº e -0,6ºC, respectivamente, para o mesmo período de dados. Contudo, a temperatura máxima para mês de agosto teve a maior variação, elevando de 21,3ºC para 22,7ºC nos últimos 30 anos.

Em Santa Catarina, temos séries temporais de dados disponíveis a partir do ano de 1930, o que limita nossa análise. Afinal, eventos climáticos extremos são cíclicos e 30 anos pode ser insignificante em um horizonte de 100 anos.

O Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) indica de cerca de 50% dos acionamentos de seguro têm a estiagem como causa, seguido de precipitação extrema (20%) e geadas (20%). Com menor intensidade ocorre vento forte, granizo, pragas e doenças. 

A observação dos dados de precipitação da região de Chapecó, para o período de 1973 a 2016, permite observar que, por um lado, os períodos de estiagem são mais comuns nos meses de novembro a março, além de agosto e setembro. Por outro lado, no período de abril a julho e pontualmente no mês de outubro, são registradas as maiores frequências de ocorrência de chuvas diárias extremas, com mais de 100mm em 24 horas. Do mesmo modo, a frequência da chuva máxima anual, acompanha essa mesma tendência:

Frequência de ocorrência de chuvas diárias extremas em Chapecó, SC (Back, Wildner e Garcez 2019)

Estima-se que Santa Catarina seja o 15º estado com maior emissão de gases do efeito estufa (GEE) no país, com uma liberação de 46,4 milhões de toneladas de  dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera. O setor lidera o ranking com 41,2% das emissões de GEE originária da produção e consumo de combustíveis e energia elétrica, utilizados pelos meios de transporte, indústria, comércio, residências e pela agropecuária. 

Em segundo lugar está a produção pecuária com 29,5 % dos gases, que estão relacionados à digestão de animais ruminantes (fermentação entérica) e à produção e manejo de dejetos. Nesse sentido, vale observar que o Estado de Santa Catarina possui o maior polo de produção de proteína animal do planeta, influenciando para esse fator. 

Por terceiro, a agricultura representa 21% das liberações de gases influenciadas pelo manejo inadequado dos solos e pelo cultivo de arroz em várzeas. Na sequência, está o gerenciamento de resíduos e efluentes com representação de 6,5%, caracterizado pela incineração e disposição inadequada de resíduos sólidos e efluentes líquidos de origem doméstica e industrial. Por fim, os processos industriais de produção de cimento representam 1,5% das emissões:

Participação de segmentos nas emissões de Gases de Efeito Estufa (Adaptado de SEEG, 2023)

Observa-se que o principal fator de compensação está relacionado à remoção de carbono por parte da vegetação secundária, das áreas protegidas e da mudança de uso da terra, principalmente pela agricultura. Considerando que a agricultura é a atividade econômica de maior expansão territorial, torna-se a principal fonte de intervenção.

Para mitigar esses efeitos do clima, a Epagri tem desenvolvido diversas políticas públicas, com o apoio dos governos do Estado, para mitigar o impacto das atividades agropecuárias. Um exemplo disso, é o plano Agricultura de Baixo Carbono de Santa Catarina (ABC+SC), que segue diretrizes nacionais e entre as principais atividades executadas pela Epagri, estão:

  • Recuperação e otimização de pastagens, com o ajuste da carga animal, intensidade de pastejo e introdução de espécies perenes;
  • Incentivo à adoção de sistemas integrados e produção lavoura-pecuária Floresta (ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs);
  • Qualificação e ampliação dos sistemas de rotação de culturas, plantio direto de grãos e hortaliças, uso de plantas de cobertura, uso de rolo faca e plantio na cobertura verde;
  • Ampliação do uso de microrganismos promotores do crescimento e da sanidade vegetal, incluindo a fixação de nitrogênio, reduzindo a necessidade de insumos sintéticos;
  • Assistência técnica para a Implantação de florestas comerciais;
  • Manejo integrado de pragas e doenças reduzindo o uso de agrotóxicos;
  • Fomento de crédito para a captação, armazenamento, uso eficiente e tratamento de água, além da compostagem e de dejetos da produção animal; e
  • recomposição da cobertura vegetal nativa de áreas degradadas, áreas de conservação e de preservação ambiental.

Algumas iniciativas estão sendo estudadas e desenvolvidas pela Epagri em parceria com outras instituições, entre elas estão o pagamento por serviços ambientais que buscam a remuneração por produção de água e pela preservação da fauna e da flora, além da política de crédito de carbono.

Em 16 de março o Brasil celebrou o Dia da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, o que coloca os brasileiros na semana da conscientização sobre o tema. É a oportunidade ideal para que a sociedade pare e reflita sobre o assunto. Frear as mudanças climáticas deve ser um compromisso de todos.

Por: Juliano Gonçalves Garcez, engenheiro-agrônomo, extensionista rural da Epagri em  Caxambu do Sul – julianogarcez@epagri.sc.gov.br

Fontes:

BACK, Alvaro José; WILDNER, Leandro do Prado; GARCEZ, Juliano Gonçalves. Análise de chuvas intensas visando ao dimensionamento de estruturas de conservação do solo em Chapecó, SC. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, p.95 – 100, 2019. Disponível em: https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/RAC/issue/view/70. Acesso em: 18 mar. 2025.

INMET. Instituto Nacional de Meteorologia. Gráficos climatológicos – 2025. Disponível em: https://clima.inmet.gov.br/GraficosClimatologicos/DF/83377. (acessado em 18 mar. 2025)

SEEG. Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa – 2023. Disponível em: https://plataforma.seeg.eco.br/territorio/santa-catarina. (acessado em 18 de mar. 2025