Santa Catarina registra desvalorização no preço pago ao produtor da banana-caturra

Entre janeiro e fevereiro de 2025, o mercado de bananas em Santa Catarina apresentou uma queda de 22,7% nos preços pagos ao produtor da banana-caturra devido ao aumento da oferta. Por outro lado, a banana-prata registrou uma valorização de 2,8%, impulsionada pela melhoria na qualidade da fruta e pelo aumento da demanda. Esses dados estão no Boletim Agropecuário de março, publicação mensal do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) que reúne informações conjunturais das safras e dos mercados dos principais produtos agropecuários do Estado. 

Com o aumento da oferta da banana em SC, a expectativa é que a redução dos preços continue (Foto: Aires Maraiga/Epagri)

De acordo com analista de socioeconomia e desenvolvimento rural da Epagri/Cepa, economista Rogério Goulart Júnior, neste ano a banana-caturra apresentou um aumento de 17% na produção em relação ao ano anterior, com estimativa de 626 mil toneladas de variedade a ser colhida.  “Com o aumento da oferta ocorreu uma desvalorização nos preços pago aos produtores nestes dois primeiros meses de 2025, chegando a mais de 50% em relação ao ano anterior, que apresentou menor oferta. Porém, mesmo diante deste cenário o fruticultor está conseguindo manter a margem adequada, pois apesar do preço da fruta estar baixo o produtor está ganhando na quantidade vendida, ” explica Rogério.

Já a banana-prata, entre janeiro e fevereiro deste ano, apresentou os preços valorizados mesmo com o aumento estimado de 15% na produção, totalizando 138 mil toneladas no estado. “Isso ocorreu devido à melhoria da qualidade da fruta em função dos tratos culturais e o aumento na demanda sazonal com a volta às aulas, já que a variedade é um dos principais itens da alimentação escolar”, afirma o analista.

Mercado da banana em março

Rogério complementa que no mês de março a expectativa é de desvalorização nos preços ao produtor em torno de 1,5% com o aumento da oferta da banana-caturra e de valorização da banana-prata em 8,1%, devido à melhoria na qualidade por conta das temperaturas mais amenas nas regiões produtoras. 

Conforme o analista, as expectativas da banana-caturra para o mês de março são de redução dos preços, porém com uma queda menor que nos meses anteriores. “Já com a banana-prata os preços devem continuar estabilizados com pequena tendência de alta no valor pago ao produtor”, comenta o economista. 

As expectativas da banana-caturra para o mês de março são de redução dos preços, porém com uma queda menor que nos meses anteriores

No mercado nacional, as bananas-nanica e prata apresentam tendência de desvalorização das cotações nos próximos meses com perspectiva de aumento na oferta e demanda. No comparativo de safras de 2023/24 e 2024/25, a estimativa é de aumento de 16,8% na produção de banana (764,1 mil toneladas) em relação à da safra anterior (653,9 mil toneladas) com acréscimo de 2,6% na área em produção, passando para 28,4 mil hectares. 

Confira os destaques das demais culturas produzidas em Santa Catarina, que foram apresentados em evento online na manhã desta segunda-feira (17).

Arroz

O mês de fevereiro e o primeiro decêndio de março foram marcados por desvalorização dos preços do arroz. Esse comportamento era esperado, considerando o avanço da colheita no estado e aumento da oferta interna. Os preços devem se manter mais baixos nesta safra em relação à safra anterior, em razão da expectativa de produção elevada nos principais estados produtores e, consequentemente, aumento da oferta interna. 

Em Santa Catarina, na safra 2024/25 a área plantada estimada para arroz irrigado é de 145 mil hectares, dos quais cerca de 65% já foram colhidos, especialmente no Litoral Norte, onde o plantio ocorre mais cedo, devido à colheita da soja. A produção deverá ser 9,52% maior do que a obtida no ano passado.

Feijão

No mês de fevereiro, o preço médio recebido pelos produtores catarinenses de feijão-carioca teve variação negativa. Para o feijão-preto, o preço médio recebido pelos produtores também reduziu. No mercado atacadista de São Paulo, principal mercado nacional para o produto, a cotação do feijão preto segue em ritmo calmo e com pouca demanda. Em função de uma boa safra nacional de feijão primeira safra, os preços seguem pressionados. Para o feijão carioca, as cotações seguem estáveis, o mercado consumidor encontra-se saturado e qualquer aumento de oferta reflete negativamente nos preços, devido ao baixo interesse de compras.

A 1ª safra catarinense de feijão está praticamente encerrada, com mais de 82% da área plantada colhidos. As estimativas para o mês de fevereiro apontam para um crescimento na área plantada de aproximadamente 10%. A produtividade média esperada também deverá crescer cerca de 13%. Com isso, é esperado um aumento de 24% na produção de feijão 1ª safra, chegando a próximo de 60 mil toneladas. 

Em relação ao feijão 2ª safra, o tempo seco, temperaturas elevadas e chuvas mal distribuídas predominaram durante o mês de fevereiro em todo estado. Essa condição climática poderá trazer redução de produtividade média, já que grande parte das lavouras estão em fase de desenvolvimento vegetativo e início de floração. A área plantada deverá permanecer a mesma da safra anterior. A expectativa é de uma safra um pouco menor, com redução de 1,5% na produção, chegando a cerca de 64 mil toneladas.

Trigo

No mês de fevereiro, no mercado interno, as cotações do cereal seguem firmes. Nos dez primeiros dias de março, os preços médios devem manter tendência de alta, com um crescimento de 2,4% em relação ao preço médio praticado no mês de fevereiro. Com a produção nos armazéns, cooperativas e cerealistas estão aguardando a elevação nos preços para comercializar volumes maiores. 

Com o avanço da colheita da safra de verão, poderá haver necessidade de abrir espaço nos armazéns para dar espaço à produção de soja, que deverá ser abundante no estado. Nessa temporada foram cultivados 123 mil hectares, redução de 10% em relação à safra passada. A produção estadual cresceu 40,5%, chegando a 432 mil toneladas.

Milho

Em fevereiro de 2025 a cotação média estadual teve uma alta de 2,38% em relação a janeiro. Mesmo em período de colheita da primeira safra no Sul do Brasil, os preços reagiram. O cenário de baixos estoques internos e indefinição da segunda safra estão influenciando no mercado interno. Para a primeira safra estadual de milho, a área de cultivo diminuiu 11,8%. Contribuíram para isso os altos custos de produção, a insegurança a possíveis ataques de cigarrinha e os baixos preços praticados em 2024. Apesar da redução da área, é previsto um aumento de 16% na produção, que se deve ao incremento de 32% na produtividade média, alcançando 9 mil kg/ha, um recorde em nossa série histórica.

Em relação ao milho 2ª safra, que responde por 8,5% da produção estadual, até o momento cerca de 92% da área plantada já foi semeada. Para as lavouras já implantadas, 79% delas estão em fase de desenvolvimento vegetativo e 21% já alcançaram a fase de floração. Condição de lavouras boas para 94% da área a ser colhida.

Soja

Os preços da soja ao produtor apresentaram sucessivas quedas desde novembro de 2024. Em março, com preços levantados nos 10 primeiros dias do mês, a trajetória da curva de preços nesse período indica uma pequena recuperação. Contudo, a expectativa da boa produção no Brasil, o que pode impactar negativamente nos preços recebidos pelos produtores. Além disso, o mercado está reagindo às oscilações nas tarifas comerciais dos EUA, o que tem levado instabilidades e incertezas que afetam os preços da soja. A menor demanda pela China e a maior expectativa da produção no Brasil tiveram forte influência no mercado internacional.

Na safra catarinense, deveremos ter um aumento de 2,6% da área plantada, alcançando 832,3 mil hectares na primeira safra. A produtividade média esperada deverá aumentar 9,3%, chegando a 3.705kg/ha. Com isso, espera-se um aumento de 12,2% na produção, chegando a um volume colhido de 3,1 milhões de toneladas. As chuvas irregulares em janeiro e início de fevereiro de 2025 podem afetar as lavouras, em especial aquelas em fase de florescimento e enchimento de grãos.

Alho

Em março, o preço médio do alho (categorias 4-5) para o produtor catarinense aumentou ligeiramente para R$17/kg, mantendo-se estável em R$16,50/kg em fevereiro. O preço no atacado também teve um pequeno aumento, chegando a R$21,16/kg no início de março. A colheita da safra 2024/25 em Santa Catarina foi concluída, com 95% das lavouras em boas condições. 

Apesar da área plantada ter diminuído 33,84%, a produção foi estimada em 7,23 mil toneladas, com produtividade de 10,96 t/ha. As importações brasileiras de alho em fevereiro totalizaram 14,62 mil toneladas, 7,29% abaixo do mesmo período em 2024. Os principais fornecedores foram Argentina, China e Chile.

Cebola

Em fevereiro e início de março, o preço da cebola ao produtor catarinense permaneceu abaixo do custo médio de produção, refletindo a elevada oferta no mercado nacional. A cotação média subiu de R$23,44/sc (fevereiro) para R$25,34/sc (março), enquanto no atacado houve queda de 11,82% no início de março, atingindo R$46,00/sc.

A safra catarinense 2024/25 está totalmente colhida. A condição da lavoura foi de 83% boa, 9% considerada média e 8% ruim. A produção é estimada em 556,4 mil toneladas. Apesar das boas condições da lavoura, a rentabilidade dos produtores foi impactada pelos preços baixos. No comércio exterior, as importações de cebola em 2025 caíram drasticamente em relação ao ano anterior, totalizando apenas 2.891 toneladas até fevereiro, 10,34% do volume importado no mesmo período de 2024. O Chile e a Argentina foram os principais fornecedores.

Bovinos

Nas primeiras semanas de março, os preços do boi gordo em Santa Catarina apresentaram queda de 1,7% em relação ao mês anterior, cenário semelhante ao que foi observado na maioria dos principais estados produtores. A melhoria na oferta de animais prontos para o abate, característica deste período do ano, é um dos fatores que ajuda a explicar essa queda. 

As quedas só não foram mais expressivas em função dos bons resultados das exportações brasileiras de carne bovina no 1º bimestre deste ano, com alta de 3,9% no volume embarcado, quando comparado ao mesmo período do ano passado. Os preços de atacado da carne bovina, por sua vez, apresentaram estabilidade nesse mesmo período, com pequena alta de 0,1% em relação ao mês anterior.

Frangos

Santa Catarina exportou 106,7 mil toneladas de carne de frango em fevereiro – altas de 13,1% em relação aos embarques do mês anterior e de 15,6% na comparação com os de fevereiro de 2024. As receitas foram de US$ 213,9 milhões – crescimento de 16,3% em relação às do mês anterior e de 22,1% na comparação com as de fevereiro de 2024. Os valores registrados no mês passado representam o segundo melhor resultado para o mês de fevereiro desde o início da série histórica, em 1997.

No acumulado do 1º bimestre, Santa Catarina exportou 200,9 mil toneladas, com receitas de US$397,8 milhões – altas de 9,8% e 16,4%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2024. Em termos de receitas, esse é o melhor resultado de Santa Catarina de toda a série histórica para o 1º bimestre, o que reforça as projeções favoráveis para o ano. 

Os resultados do início deste ano refletem a elevada demanda no mercado internacional por carne de frango do Brasil, principalmente em decorrência de rupturas de fluxo de comércio geradas pela ocorrência de casos de influenza aviária em diversos países. O estado foi responsável por 22,6% da quantidade e 23,9% das receitas geradas pelas exportações brasileiras de carne de frango em 2025.

Suínos

Santa Catarina exportou 61,5 mil toneladas de carne suína em fevereiro – altas de 10,4% em relação ao montante do mês anterior e de 15,0% na comparação com os embarques de fevereiro de 2024. As receitas do período foram de US$ 148,9 milhões – altas de 13,9% na comparação com as do mês anterior e de 24,7% em relação às de fevereiro de 2024. Os valores registrados no mês passado representam o melhor resultado para o mês de fevereiro, tanto em quantidade quanto em valor, desde o início da série histórica, em 1997.

No 1º bimestre, Santa Catarina exportou 117,3 mil toneladas, com receitas de US$ 279,6 milhões – altas de 8,9% e 18,4%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2024. 

Esse é o melhor resultado de toda a série histórica para o 1º bimestre do ano, tanto em valor quanto em quantidade, o que reforça as projeções favoráveis do setor para este ano. Santa Catarina foi responsável por 55,5% da quantidade e 55,7% das receitas das exportações brasileiras de carne suína dos dois primeiros meses deste ano.

Leite

Em 2024, as indústrias aumentaram a compra de leite cru em 2%, atingindo 25,1 bilhões de litros. Santa Catarina, o terceiro maior fornecedor, contribuiu com 13% do total, um aumento de 4% em relação a 2023. O primeiro bimestre de 2025 trouxe desafios para a balança comercial de lácteos, com queda de 16% nas exportações e alta de 5% nas importações, resultando em um déficit comercial 9% maior. Em valores, as exportações caíram 35%, enquanto as importações aumentaram 17%.

Os preços do leite ao produtor e no atacado aumentaram no início de 2025. O preço médio do leite padrão subiu de R$ 2,45 para R$ 2,54 por litro, mas o aumento efetivo foi menor, de acordo com o Cepa. Comparado a 2024, houve alta real de R$ 0,37 por litro em janeiro e R$ 0,35 por litro em fevereiro. No Extremo Oeste de Santa Catarina, o preço ao produtor subiu 2,55%. No atacado, o leite UHT aumentou R$ 0,25 por litro entre janeiro e fevereiro e já acumula alta de R$ 0,15 por litro em março. Este cenário é reflexo de pressões tanto no mercado interno quanto no externo.

Confira a íntegra do boletim de março aqui

Mais informações e entrevistas

Rogério Goulart Júnior, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, fone: (48) 3665-5448

Informações para a imprensa: Isabela Schwengber, assessora de Comunicação da Epagri, fones (48) 3665-5407/99161-6596