Por: Clístenes Antônio Guadagnin, extensionista rural da Gerência Regional da Epagri em São Miguel do Oeste (guada@epagri.sc.gov.br)
O Dia Mundial do Solo, comemorado em 5 de dezembro, tem por objetivo conscientizar a humanidade da importância do solo para garantir a vida na Terra. O solo é a base da sustentabilidade dos sistemas agropecuários para produção de alimentos, fibras e energia, presta funções e serviços ecossistêmicos de provisão, regulação, culturais e de suporte para a produção através de processos que poupem energia e recursos naturais. As diversas funções do solo incluem a ciclagem e armazenamento de nutrientes, a purificação e o maior reservatório da água superficial e subterrânea do planeta, o sequestro e estoque de carbono, o habitat para biodiversidade de organismos e os múltiplos processos biodinâmicos, a regulação do clima e da água disponível, a base da infraestrutura humana e herança cultural.
Manter a qualidade do solo é princípio básico para que ele possa contribuir com o sequestro de carbono e minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Solos saudáveis são uma linha de defesa natural contra a poluição, proteção dos recursos hídricos e a saúde humana. Assim, sistemas de uso do solo que mantenham plantas em crescimento, rotação e diversidade de sistemas de culturas, de preferência com consórcios e plantas de cobertura, evoluindo para o plantio no verde sem dessecação, sem intervalos entre safras, geram sistemas integrados de produção para reduzir custos e potencializar resultados, comprometidos com a produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental de todos no planeta.
Uma solução “ganha-ganha” para agricultores, sociedade, indústrias, comércio, serviços e agronegócio só pode ser alcançada com o apoio ativo dos governos e o desenvolvimento da agricultura conservacionista e regenerativa, segundo a ONU. Assim, as estratégias de conservação do solo e da água oferecem múltiplos benefícios para promover as funções do solo, melhorar sua qualidade física, química e biológica, estimular as relações do sistema solo-água-planta-atmosfera, capturar e armazenar carbono atmosférico, conservar a matéria orgânica do solo, regenerar sua fertilidade e garantir serviços ecossistêmicos.
Agricultura coletiva
A visão holística da conservação deve assegurar que funções agroecossistêmicas não sejam abaladas pela ocupação e uso contínuo do espaço agrícola, enfatiza o pesquisador Afonso Peche Filho, do Instituto Agronômico de Campinas. “O princípio da inseparabilidade entre agricultor, solo, água e diversidade ecossistêmica reflete num conceito de agricultura coletiva, que favorece a construção de um modelo de gestão agroambiental de bacias hidrográficas. O todo de uma bacia hidrográfica pode ser definido como um conjunto de propriedades agrícolas unidas por um complexo hidrológico natural. Assim, a visão holística da conservação agrícola vai muito além de práticas isoladas, abrangendo uma variedade de atividades focadas em melhorar as condições ambientais para as pessoas e todas as formas de vida no agroecossistema físico”.
A contribuição da conservação do solo e da água para o combate às mudanças climáticas e a manutenção da vida no planeta exige a formação do agricultor conservacionista holístico, através da sensibilização, conscientização e capacitação, destaca o pesquisador Afonso Peche Filho: “a sensibilidade da consciência humana habilita o agricultor para conservar todas as formas de vida e buscar alternativas para mitigar os impactos negativos do modelo de produção. A conscientização traz decisões favoráveis pelo uso racional de tecnologia e do bem comum. A capacitação leva a melhoria contínua e a certeza de um futuro com ambiente produtivo, mais equilibrado, estável e rentável.”
Em termos práticos, as contribuições para evitar o aquecimento global significam sequestrar carbono e armazená-lo no solo, retirando gás carbônico da atmosfera e formando compostos orgânicos no solo que melhorem a qualidade do solo e do ar e promovam a saúde e a vida. A agricultura de processos, também chamada de agricultura de sistemas, busca uma visão holística onde a resolução dos problemas considera a análise da totalidade das coisas, sua complexidade e interdependência. Recordando Ana Maria Primavesi, mãe da Agroecologia, “tudo está interligado: a terra, a água, o ar, as plantas e os animais”. A conservação do solo é responsabilidade de todos para garantir a saúde do planeta, para as presentes e futuras gerações.