Importação de leite cresce em comparação com 2022, mas ainda é menor do que a registrada em 2016 

Nas últimas semanas, as importações de leite e derivados têm motivado um debate sobre seus impactos para o mercado nacional. Isso porque, no primeiro semestre de 2023 as importações de produtos lácteos, vindos majoritariamente da Argentina e do Uruguai, aumentaram mais de 180% na comparação com o mesmo período de 2022. Em Santa Catarina, dada a importância socioeconômica da produção leiteira, o tema mobilizou representantes de diferentes setores da cadeia produtiva. No entanto, a julgar pelos dados levantados pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), esse movimento das importações não é tão extraordinário como pode parecer em um primeiro momento.

Desde o final dos anos de 1990 o espaço ocupado pelas importações no mercado nacional tem sido reduzido (Foto: Aires Mariga)

Conforme o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Tabajara Marcondes, essa taxa de crescimento tão elevada, na casa dos três dígitos, tem muito a ver com a quantidade reduzida de importações no primeiro semestre de 2022. “As importações do primeiro semestre de 2022 foram baixas. Então, o crescimento percentual acaba mostrando um pulo nas importações do primeiro semestre de 2023”, explica Tabajara.

Análise dos dados

Segundo ele, quando os números são analisados em mais longo prazo, é possível perceber que, embora as importações tenham crescido no ano corrente, esse movimento não é tão atípico. Por exemplo, quando as importações dos primeiros seis meses deste ano são avaliadas em relação às do segundo semestre de 2022, o crescimento é bem menos expressivo, com índice de 13,8%. Resultado parecido é observado quando se compara o primeiro semestre de 2023 com o segundo semestre de 2020, nesse caso o aumento nas importações foi de 12,8%. Já no segundo semestre de 2016, as importações de leite e derivados chegaram a 139,2 milhões de quilos, número maior do que o registrado no primeiro semestre de 2023, quando foram importados 137,9 milhões de quilos. 

Apontar que as exportações deste ano não são tão excepcionais quanto parecem à primeira vista não quer dizer que elas não tenham influência sobre os preços dos produtos no mercado interno. Conforme Tabajara, o aumento na oferta de leite naturalmente pressiona os preços para baixo. Em julho, o preço médio recebido pelos produtores catarinenses foi de R$ 2,50 o litro e, pela  primeira vez no ano, foi inferior ao recebido no mesmo mês do ano passado, quando o preço médio ficou em R$ 3,04 por litro. Em contrapartida, os custos de produção diminuíram. Essa é uma questão importante tendo em vista que, em 2021 e 2022, os custos foram uma preocupação constante.

Balança comercial

A balança comercial brasileira de leite e derivados é tradicionalmente negativa, ou seja, o país costumeiramente importa mais produtos lácteos do que exporta. No entanto, desde o final dos anos de 1990 o espaço ocupado pelas importações no mercado nacional tem sido reduzido. Enquanto em 1999 as importações chegaram a representar mais de 15% da oferta total de leite no mercado nacional, nos últimos dez anos (2013 a 2022), a participação média das importações no abastecimento interno foi de 4,7% e o maior percentual foi o de 2016, de 7,5%. “Além disso, embora se repita sistematicamente que o setor lácteo brasileiro não tem competitividade internacional, por cinco anos consecutivos (2004 a 2008), o Brasil exportou mais do que importou produtos lácteos”, explica Tabajara.

Para ele, isso indica que os períodos de crescimento de importação decorrem muito mais de momentos de baixa oferta interna e/ou crescimento expressivo dos preços do leite e derivados no mercado brasileiro do que da redução estrutural da competitividade da atividade leiteira nacional e, particularmente, da catarinense. “Nós tivemos uma redução muito importante da produção leiteira brasileira de 2020 para 2021 e de 2021 para 2022, o que ajuda a explicar as importações”, comenta o analista. 

Pecuária leiteira em Santa Catarina

Nos últimos 10 anos a produção leiteira catarinense aumentou 41%, enquanto a brasileira teve um acréscimo de 1,5% (Foto: Divulgação/Epagri)

Santa Catarina, contudo, foi na contramão desse decréscimo. No período mencionado a produção estadual cresceu. Segundo Tabajara, quando se avalia um período de 10 anos, a produção leiteira catarinense aumentou 41%, enquanto a brasileira teve um acréscimo de 1,5%. A importância da cadeia produtiva também pode ser observada pelo número de famílias envolvidas na produção comercial de leite. Segundo dados da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) disponíveis no Observatório, mais de 23 mil produtores destinaram leite para as indústrias inspecionadas em 2022. A produção está mais concentrada na mesorregião Oeste, que concentra 80% dos produtores.

Em 2022, o Valor da Produção do leite produzido em Santa Catarina (R$7,9 bilhões) representou quase 13% do total do Valor da Produção da Agropecuária (VPA) do Estado (R$61,4 bilhões). Com isso, o leite ficou na terceira posição entre os produtos que mais contribuíram com o VPA estadual, superado apenas pelos valores da produção de suínos e de frango. Com isso, Santa Catarina é o quarto produtor nacional de leite, ficando atrás apenas de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

Escrita por Marcionize Elis Bavaresco

Mais informações e entrevistas:

  • Tabajara Marcondes

Analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa

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  • Marcionize Elis Bavaresco

jornalista Observatório Agro Catarinense 

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  • Isabela Schwengber

Jornalista Epagri

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