Nas paisagens do Planalto Sul Catarinense, onde a pecuária de corte é fonte de renda, mas também é tradição e identidade, nasceu a primeira cooperativa consolidada no setor de carne bovina do Estado. Um pequeno grupo organizado há cerca de dez anos se uniu, profissionalizou-se e cresceu: hoje a Coopertropas reúne 112 pecuaristas em 17 municípios, com um rebanho de 3 mil cabeças e produção de 900 toneladas de carne por ano.
O segredo para crescer foi apostar em um produto diferenciado. Embora a pecuária de corte esteja presente em mais de 90% dos estabelecimentos rurais do Estado, a estrutura de pequenas propriedades impede Santa Catarina de competir em escala nesse mercado. Por isso, a Coopertropas foca na agregação de valor: produzir carnes nobres de animais de raças britânicas precoces alimentados a pasto.
A produção animal à base de pastagens é um dos pilares do trabalho da Epagri na pecuária, com ações de pesquisa e extensão rural. Nesse sistema, o produtor tem maior estabilidade econômica, pois não depende de insumos externos, como os grãos, que são regulados pelo mercado internacional. O modelo também alia bem-estar animal e boas práticas de produção agropecuária, como conservação do solo e da água e sequestro de gases de efeito estufa.
O resultado é uma carne valorizada no mercado, com qualidade nutracêutica, combinando alto teor de ácido linoleico conjugado e ômegas 3 e 6. O sabor e a maciez se destacam em relação às carnes de animais criados em confinamento e com dieta baseada em alimentos concentrados.
Essa qualidade se reflete na remuneração dos produtores: de acordo com cálculos da Epagri, os pecuaristas da Coopertropas recebem valores 9,46% acima do preço médio de Santa Catarina e 11,65% acima do valor médio do Brasil. A cooperativa fatura R$20 milhões por ano vendendo seus produtos em 15 municípios catarinenses, em uma cadeia curta de abastecimento.
A Epagri está presente em cada etapa dessa e de outras histórias de sucesso na pecuária catarinense. Para dentro da porteira, leva boas práticas de produção, como adubação para construir a fertilidade do solo, controle sanitário, ajustes de lotação nos piquetes pelo manejo da altura do pasto, melhoramento de pastagens e apoio na gestão da propriedade. Fora da porteira, o foco é fortalecer o cooperativismo para crescer de forma competitiva.
Pecuarista da serra eleva a produtividade em cinco vezes
Em uma propriedade com 38 hectares de pastagens em São José do Cerrito, 120 animais das raças Devon, Hereford e Angus são criados soltos, com sombra, alimento e água à vontade. É só cruzar a porteira da família Schneider para perceber que tecnologias e cooperativismo são o caminho para o sucesso na pecuária.
Assim como os Schneider, todos os membros da Coopertropas alimentam os animais com pasto para que o rebanho expresse ao máximo suas características naturais. “A carne de um animal criado em confinamento, alimentado com ração, acaba apresentando o sabor do que ele comeu. Mas quando o animal pasteja, a carne mostra seu real sabor”, diz o pecuarista Vitor Schneider.
Foi dessa forma que ele produziu 1.120kg de peso vivo por hectare em 2021 – um índice nove vezes superior à média brasileira e cinco vezes maior que a família alcançava dez anos atrás. Essa escalada teve apoio da Epagri. “Lá no início, os técnicos deram as primeiras orientações para implantar a pastagem de inverno e evitar que faltasse alimento para os animais”, lembra. A partir daí, Vitor foi aprendendo e agregando tecnologias à atividade, como piqueteamento de pastagens, manejo da altura do pasto e construção da
fertilidade do solo, por exemplo.
Ele também viu que se unir a outros produtores era o melhor caminho para chegar ao mercado – tanto que em 2016 foi um dos fundadores da Coopertropas. “Um produtor sozinho não tem condições de atender o mercado e competir. É preciso ter constância nas entregas. Sem o trabalho conjunto, nosso crescimento seria inviável”, conta.
LEIA ESSA E OUTRAS HISTÓRIAS DE SUCESSO NO BALANÇO SOCIAL DA EPAGRI.