Ciclone: entenda o que é e o que provoca em SC
  • Post publicado:20 de maio de 2022
  • Categoria do post:Mídia

O ciclone que se deslocou pelo litoral Sul do Brasil entre 17 e 18 de maio provocou ventos fortes em SC, especialmente no Planalto Sul e Litoral Sul. Entre os estragos, houve cancelamento de voos, queda de energia, destruição em plantações, derrubada de muros, além de danos provocados pela ressaca e inundação por maré alta, inclusive com fechamento dos portos. As estações meteorológicas monitoradas na Epagri/Ciram (confira no Agroconnect) registraram ventos de 50 a 70 km/h em diversas regiões catarinenses. No sul do Estado, as rajadas máximas chegaram a 80km/h em Arroio do Silva, 90km/h em Imbituba e 100km/h em Siderópolis (Barragem São Bento-Casan) e no Morro de Urupema.

Na primeira semana de maio, outro ciclone ganhou destaque na mídia, desta vez por provocar chuva de mais de 200mm em quatro dias. Com muitas dúvidas, a população catarinense sofre com grande receio de novas destruições para cada previsão de ciclone que se anuncia. Experientes na previsão e monitoramento de ciclones na costa Sul do Brasil, incluindo o mais famoso deles, o furacão Catarina, os meteorologistas Gilsânia Cruz e Marcelo Martins, da Epagri/Ciram, respondem as nossas dúvidas.

O que é um ciclone?

Ciclones são sistemas de baixa pressão nos quais os ventos giram em sentido horário no Hemisfério Sul e com forte intensidade nas áreas ao redor do seu centro. Na imagem abaixo pode ser observado o ciclone no mar de 17 de maio de 22, cujos ventos atingiram o litoral com grande intensidade. Alguns sistemas são mais intensos em relação a outros, com rajadas que podem chegar a 80km/h ou mais, especialmente em municípios do RS e da costa sul catarinense.

Mapa de ventos no dia 17/05/2022 (Elaboração: Fabricio Vidal / Epagri). Os ventos com giro em sentido horário, próximo da costa do RS, representam o ciclone que se deslocou em direção à costa de SC

O ciclone dos dias 17 e 18/05 foi classificado como Tempestade Subtropical. Ele de fato se tornou uma tempestade? O que essa diferença de classificação significa?

Os ciclones são classificados conforme as características verificadas no sistema de baixa pressão, que pode ter um núcleo frio (os extratropicais) ou quente (os tropicais) em sua extensão. Há ainda os chamados subtropicais, que possuem características tanto de extras como de tropicais. A classificação “depressão” ou “tempestade” está relacionada à intensidade do vento. O sistema dos dias 17 e 18/05 apresentou características de Subtropical e ventos na categoria “Tempestade”, entre 63km/h e 118km/h. O Furacão é um ciclone com características tropicais, cuja força dos ventos é superior a de uma “Tempestade Tropical”. No decorrer de sua trajetória, é comum os ciclones alterarem suas caraterísticas, adquirindo diferentes classificações.

O ciclone foi batizado por “Yakecan” pela Marinha do Brasil. Por que alguns ganham nome e outros não?

Recebem nome em Tupi Guarani os ciclones Subtropicais e Tropicais significativos, que se desenvolvem no Atlântico Sul em área marítima de responsabilidade da Marinha do Brasil. “Yakecan” significa “o som do céu” e faz parte de uma relação com sugestão de nomes a serem adotados, confira lita aqui.

Os ciclones são eventos meteorológicos comuns em SC nesta época do ano?

Sim. Os Extratropicais” são os mais comuns na costa Sul do Brasil, atingindo especialmente o RS e o Litoral Sul de SC, sendo mais frequentes e também mais intensos justamente nos meses de abril a setembro. Os ciclones “Subtropicais”, menos frequentes, aparecem mais nos meses de fevereiro e março, quando as águas na costa estão mais aquecidas, e se formam principalmente no litoral Sudeste do Brasil, influenciando o Litoral Norte de SC.

Então seria incomum uma Tempestade Subtropical neste mês de maio no litoral do RS?

Realmente não é comum ciclones da categoria Subtropical nesta época do ano (maio) no litoral do RS. Por isso houve uma mobilização tão grande dos centros de meteorologia para monitorar o sistema, que começou como um ciclone Extratropical na costa do Uruguai e, no dia 17/05, deslocou-se para o RS com características de Subtropical.

O ciclone “Yakecan” teve influência na massa de ar polar e na neve que atingiu SC?

Sim. Ciclones ajudam a impulsionar massas de ar frio que declinam a temperatura no Sul do Brasil. Esses sistemas estão associados às frentes frias e, como estas, são formados a partir do ingresso da massa fria que avança na retaguarda das frentes frias. Por isto se observa esta sequência de condição de tempo nas regiões catarinenses: chuva (pela frente fria), fortes ventos de sul (pelo ciclone na costa) e frio (pela massa de ar frio), como pode ser visto na imagem abaixo. Dependendo da posição do ciclone na costa do RS e de SC, o sistema favorece o transporte de umidade do mar, que aliado a baixas temperaturas, pela presença de uma massa polar, favorece a ocorrência de chuva congelada e/ou neve especialmente nas áreas altas da Serra catarinense, como ocorreu em 17 e 18/05. Ou seja, a neve ocorre pela combinação de frio e umidade.

Ilustração de frente fria (linha com triângulos) e ciclone (B) associado, na costa Sul do Brasil, com massa de ar frio (A) na retaguarda. Fonte: Climatempo.

Ciclones provocam chuva, ventos fortes, neve. E quais os perigos para a navegação?

Os ciclones têm grande impacto para atividades marítimas. A pista de ventos (intensos e persistentes em longo período) que se forma no mar, conforme sua posição, favorece o aumento da maré, que é a chamada “maré meteorológica” (diferente da maré astronômica influenciada pela lua), que pode resultar em inundação costeira, bem comum em SC. Além da maré, ciclones geram ondas mais altas. Mesmo que as ondas sejam geradas em alto mar, elas “viajam” até a costa e chegam nas praias provocando a ressaca. À medida que o ciclone vai se afastando da costa, em direção ao mar, os ventos na praia vão perdendo intensidade, mas a agitação no mar permanece. E é nesse momento que chegam as ondas favoritas dos surfistas. Ou seja, ciclones também fazem a alegria do surf e de pescadores, pois é o vento sul do ciclone que traz a tainha.

Laura Rodrigues (Epagri/Ciram)