Plantar a mesma quantidade de mandioca e produzir cerca de 30% a mais de farinha. Com essa vantagem, o cultivar SCS254 Sambaqui, da Epagri, conquista cada vez mais agricultores e proprietários de engenhos em Santa Catarina. A mandioca Sambaqui foi lançada em 2014 pela Estação Experimental da Epagri de Urussanga (EEUr) como resultado de um trabalho de pesquisa voltado para as necessidades da cadeia produtiva de farinha. Hoje, ela ocupa uma área de cerca de 1,1 mil hectares em Santa Catarina e ganha espaço a cada ano.
O rendimento de farinha desse cultivar se deve ao teor de amido da raiz, que é maior do que as variedades usualmente cultivadas no estado. “Quanto maior o teor de amido, maior é o teor de matéria seca nas raízes, o rendimento industrial e, consequentemente, o retorno econômico obtido pela mesma quantidade de raiz processada”, destaca o pesquisador Alexsander Moreto, da Epagri.
A mandioca Sambaqui ainda gera economia no transporte das raízes – já que menos cargas são necessárias para produzir a mesma quantidade de farinha ou fécula – e consome menos energia e tempo no beneficiamento. Sem falar na redução dos resíduos líquidos (conhecidos como manipueira) descartados no processo de fabricação. De acordo com o Balanço Social da Epagri, em 2020, esse cultivar gerou impacto de R$7,8 milhões no Brasil em aumento de produtividade e agregação de valor para os produtores.
Agricultores satisfeitos
No município de Jaguaruna, um dos maiores produtores de mandioca para farinha do estado, a Sambaqui ganha espaço a cada ano. “O município cultiva cerca de mil hectares de mandioca para indústria. Na última safra, 2020/21, cuja colheita encerrou no fim de agosto, nosso levantamento de campo apontou que a Sambaqui representa 77,4% da área cultivada com mandioca no município. Estamos acompanhando a implantação das lavouras de 2021/22 e a Sambaqui ainda está expandindo sua área por aqui”, conta Emerson Evald, extensionista da Epagri.
Na propriedade de Gelson Joaquim Domingos, de Jaguaruna, só tem mandioca Sambaqui. Ele começou a plantar esse cultivar em 2016, gostou do resultado e foi aumentando a área a cada ano. Hoje, são cerca de 45 hectares plantados na propriedade.
Gelson também tem um engenho, onde produz 2,5 mil toneladas de farinha bruta por ano, que é vendida para indústrias da região. “Essa mandioca dá um rendimento muito bom de farinha, às vezes até mais do que 30% em relação às outras variedades. E a qualidade da farinha é muito boa”, diz o produtor.
Ele destaca que as raízes têm a polpa e a película branca, características que agradam bastante a indústria, pois permitem fabricar uma farinha com aparência mais bonita. O formato cônico-cilíndrico, com poucas constrições, também facilita o beneficiamento da raiz.
No campo, Gelson alcança produtividades de 24 a 30t/ha, dependendo da área, e ainda mantém a lavoura saudável. “Estou produzindo a Sambaqui desde 2016 e até agora não apareceu nenhuma doença na lavoura”, conta.
Alta produtividade e resistência a doenças
A boa produtividade atestada por Gelson se repete pelas lavouras catarinenses, com média de 25 toneladas por hectare. “Em lavouras mais tecnificadas, essa mandioca tem potencial para produzir 35 a 38 toneladas por hectare, colhendo com oito a nove meses de cultivo”, explica o pesquisador Alexsander Moreto.
Outra vantagem para os produtores é a resistência desse cultivar à bacteriose provocada pela Xanthomonas axonopodis pv. Manihotis – principal doença que ataca a cultura na região. “Essa bactéria causa a murcha das plantas e o apodrecimento das ramas, provocando perda de produtividade. Se a lavoura for infectada no início, pode comprometer toda a produção”, diz Alexsander.
O segredo para oferecer aos produtores uma planta resistente à bacteriose está na forma como esse cultivar “nasceu” dentro da Epagri. Ele foi originado através de um cruzamento de polinização aberta que usou como progenitor feminino o cultivar Prata. As sementes desse cultivar foram germinadas em casa de vegetação e inoculadas com a bactéria Xanthomonas. Apenas as plantas resistentes à doença seguiram no processo de melhoramento.
Entre essas plantas, os pesquisadores identificaram um clone (o futuro cultivar Sambaqui), que foi avaliado por vários anos, sempre com bom desempenho. Antes de ser lançado, ele foi plantado em várias localidades de Santa Catarina, em um processo de avaliação participativa que envolveu técnicos e agricultores.
Plantio e colheita mais fáceis
Até mesmo a arquitetura da planta foi pensada para atender as necessidades dos produtores. As ramas da mandioca Sambaqui são retas, sem galhos, e essa característica ajuda muito o trabalho no campo. Isso porque fica mais fácil entrar na lavoura para fazer tratos culturais ou a colheita, transportar e armazenar as ramas. A Sambaqui também é fácil de arrancar do solo e de despencar as raízes colhidas com um ciclo produtivo.
O plantio pode ser feito do fim de agosto até o início de outubro. O ciclo da Sambaqui é de oito a dez meses e ela pode ficar por até 18 meses a campo. “Para o plantio, recomendamos utilizar as ramas das plantas mais saudáveis. É importante manter uma área que chamamos de berçário, destinada para a coleta das ramas”, orienta Alexsander.
Os produtores interessados em conseguir ramas da mandioca Sambaqui devem procurar o escritório da Epagri em seu município.
Mandioca para indústria em SC
De acordo com a Epagri/Cepa, a mandioca para indústria é plantada em mais de 6,5 mil hectares em Santa Catarina, concentrados nas regiões de Tubarão e Araranguá, no Sul Catarinense. Juntas, essas regiões somam mais de 5 mil hectares plantados. Na safra 2020/21, Santa Catarina colheu cerca de 152 mil toneladas de mandioca para indústria de farinha, fécula, polvilho azedo e derivados.
Informações e entrevistas:
Alexsander Moreto, pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Urussanga
(48) 3404 1378 / alexsandermoreto@epagri.sc.gov.br.
Informações para a imprensa:
Gisele Dias, jornalista
(48) 3665-5147 / 99989-2992
Conheça melhor a mandioca Sambaqui no vídeo: