Segundo a previsão do tempo da Epagri/Ciram, Santa Catarina deve registrar a partir de quarta-feira, 28, a chegada da massa de ar polar que pode ser a mais forte do inverno de 2021, se igualando e até superando massas que atuaram em julho dos anos 2000 e 2013.
O pacote de frio deve ser completo, novamente com quebra de recorde de temperatura mensal e absoluto (registro de toda série histórica) na maioria das regiões, temperatura negativa com geada generalizada em SC, mais forte nas áreas altas do estado (acima de 700/800m), com possíveis prejuízos para a agricultura. Outros setores, como pecuária, piscicultura e carcinicultura também podem ser afetados devido ao frio intenso. Não se descarta a possibilidade de chuva congelada e neve do Oeste ao Planalto, especialmente Planalto Sul, na quinta-feira, 29/07.
A formação de geada pode impactar negativamente na atividade agrícola e pecuária, causando prejuízos em cultivos e criações sensíveis ao frio. Para contornar a situação, a Epagri informa algumas práticas mitigadoras para enfrentar baixas temperaturas.
Mas não são todos os cultivos que sofrem. Há quem comemore as baixas temperaturas, que provocam acúmulo de horas de frio, essencial para algumas culturas. Para as fruteiras de clima temperado, como maçã e uva, que estão no período de dormência, o frio extremo possibilita brotações vigorosas, favorece a floração e a frutificação. As baixas temperaturas também são importantes reguladoras de populações de insetos-praga, como as cigarrinhas que atacam o milho, e de plantas guaxas de milho e soja.
A Epagri é o órgão do governo do Estado de SC que está sempre ao lado do agricultor familiar, fornecendo tecnologias e informações para aumentar a produtividade e a sustentabilidade no meio rural catarinense.
Fruticultura de clima temperado: Ameixa, pêssego, nectarina e maçã
Neste ano, o acúmulo de frio que está acima da média histórica, o que favorece o período de dormência das fruteiras (maçã, uva, pêssego, ameixas) e de demais espécies de clima temperado. O agricultor deve ter atenção quanto à possibilidade em ocorrer brotação e floração antecipada nas variedades mais precoces.
A Epagri orienta os fruticultores a executarem práticas para adequar a brotação das plantas, em função da possibilidade de ocorrência de frios tardios. Retardar a execução das podas de inverno o máximo possível; atrasar a aplicação de produtos promotores de brotação (quebra de dormência); aplicar produtos que provocam atraso nas brotações, como a calda bordalesa; e atrasar o plantio dos pomares novos o máximo possível são alguns dos manejos recomendados.
Em pomares onde já está ocorrendo a brotação, ou onde não for possível atrasar as práticas de podas e quebra de dormência, orienta-se que o produtor empregue manejos que minimizem a perda das fruteiras por frio, como o sistema de irrigação por aspersão. Na iminência de geada, é possível fazer o controle com uso da irrigação por aspersão na madrugada que antecede a possível geada, no caso da temperatura baixar de 0°C. As perdas ocorrem quando as temperaturas abaixam de -1,5°C. Quem já conta com sistema de irrigação por aspersão tem uma ferramenta importante no enfrentamento da situação. Quem não dispõe, deve pensar em instalar, como modo de se preparar para os próximos episódios de geadas, buscando os programas de crédito fornecidos pelo Governo Federal, via Pronaf, e pela Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural.
Maracujá
A possibilidade de ocorrência de geadas em pomares de maracujá durante o mês de julho coincide com o período de vazio sanitário estabelecido em Santa Catarina para controlar a virose do endurecimento dos frutos.
Banana
Os pomares de banana são os mais sensíveis diante da possibilidade de ocorrência de geadas. Os danos podem atingir folhas, frutas e até os pseudocaules, no caso de o fenômeno ser muito intenso. Entre as práticas indicadas está a suspensão do transplantio das mudas até que o frio passe, bem como a antecipação da colheita dos cachos e ensacamento daqueles não colhidos. Também devem ser ensacadas as inflorescências recém-emitidas. Após a geada, é importante estar atento à eliminação das folhas secas.
Citros
Nos pomares jovens, com até dois anos, recomenda-se a proteção do tronco contra o frio, usando barreiras físicas como papelão, plástico, capim ou palha. Ainda pode-se avaliar a proteção da planta por inteiro.
Cereais de inverno
Neste momento, os cultivos de cereais de inverno em Santa Catarina, como trigo, aveia grão, centeio e cevada, encontram-se em fase de semeadura ou em desenvolvimento inicial. Os cereais de inverno na fase vegetativa inicial têm baixo risco de dano ocasionado pelo frio, sendo que a baixa temperatura pode auxiliar no perfilhamento das plantas. Nas sementes, o dano que pode ocorrer é o atraso na germinação.
Milho
Com relação à semeadura do milho da safra, recomenda-se seguir rigorosamente o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para Santa Catarina na safra 2021/2022 de cada região, disponível em aqui. No caso de uma forte onda de frio, recomenda-se que o produtor espere a passagem e acompanhe a temperatura para iniciar a semeadura em condições mais favoráveis.
Por outro lado, o frio na entressafra de milho deve auxiliar no controle de insetos-pragas e de plantas espontâneas (guaxas) de milho e de soja, que neste momento podem ser hospedeiras de pragas e doenças.
Hortaliças
Para as hortaliças em geral, inclusive folhosas, recomenda-se manter aspersores ligados no dia em que a geada ocorre, até o nascer do sol. Isso porque a água tem temperatura maior em relação ao ambiente, formando camada de vapor que protege as plantas do congelamento. As brássicas que estiverem em floração devem ter as folhas amarradas no topo, de modo a proteger os brotos.
Morango
O excesso de frio pode causar abortamento de flores, comprometendo a produção. A recomendação para evitar prejuízos severos é a cobertura das plantas com plástico branco leitoso, de preferência na forma de túneis, mesmo daquelas já produzidas em ambientes protegidos altos. Também é muito importante não irrigar nem fertirrigar na véspera da geada, para evitar o congelamento da água presente no solo logo abaixo do mulching (plástico de cobertura do solo) ou substrato (sacos de cultivo), o que pode danificar as raízes e matar as plantas. Os túneis devem ser fechados antes da ocorrência da geada. Após a passagem da geada, o produtor deve ficar atento às doenças relacionadas à podridão dos frutos.
Mandioca e aipim
O frio neste momento pode danificar as ramas (manivas) destinadas ao plantio da próxima safra. É recoemndados proteger as ramas em local apropriado para o armazenamento. Assim, se evita o comprometimento do material propagativo.
Mudas
Quem tem muda de qualquer espécie deve abriga-las bem nos viveiros. É importante manter a área do viveiro mais úmida, evitando-se a inversão térmica.
Gado de corte
A principal preocupação é com o crestamento das pastagens, que é a queima da parte vegetativa em decorrência de geadas muito fortes. Na região do Planalto Sul, onde se pratica a integração lavoura-pecuária em larga escala, esse mesmo dano pode ocorrer também em pastagens cultivadas. A recomendação é usar o máximo da pastagem para alimentar o gado ainda antes do frio intenso, principalmente nos casos onde se cultiva aveias, que são mais sensíveis a frios intensos.
Gado de leite
Os animais parindo e as crias devem ser abrigados em locais secos e sem vento. Para proteger os rebanhos adultos do frio, a recomendação é leva-los para locais com árvores, tanto nativas como sistemas silvipastoris, que vão funcionar como quebra-vento. Na alimentação, em caso de danos nas pastagens cultivadas, especialmente aveia, recomenda-se a utilização de outras fontes de alimento, como silagem e feno.
Apicultura
Nos apiários, o frio intenso pode provocar o resfriamento do ninho e até morte de larvas. Os apicultores devem evitar abrir as caixas, pois há perda de calor e muito gasto de energia e alimento para elevar a temperatura às condições adequadas novamente. Não se deve fazer pulverização de ácido oxálico para controle de varroa, pois pode ocorrer o congelamento dentro do ninho. É recomendável fornecer alimento proteico, pois nesta época já tem crias, portanto, o bife proteico deve ser colocado próximo às crias. Se necessário, fornecer alimento energético. A prática da instalação do “alvado invertido” pode auxiliar ou, emergencialmente, pode-se utilizar a ripa na parte central do alvado. Poncho ou entretampa horizontal de ráfia podem ser utilizados, bem como o poncho ou entretampa vertical. Para detalhes destas práticas, acessar o site Apis on Line.
Piscicultura
Água com temperaturas abaixo de 13°C, por mais de três dias, pode afetar peixes como as tilápias, causando estresses, enfermidades e até mortalidade. Assim, as recomendações são: não renovar água dos viveiros quando a temperatura da água de abastecimento, externa, for inferior à temperatura ambiente de cultivo; não manejar os animais (biometria, povoamento, transferência), evitando possíveis estresses; suspender alimentação e fertilização durante período de frio.
Maquinário
Prejuízos em máquinas e equipamentos com o frio extremo merecem a atenção dos agricultores. Sistemas que levam água, como as bombas de irrigação, os pulverizadores e os turbo atomizadores são sensíveis ao congelamento da água e podem sofrer danos. Tratores, caminhões, colheitadeiras, entre outros maquinários, também devem ficar protegidos em galpões e com líquido anticongelante nos radiadores.
Estruturas físicas
Tetos de residências e galpões, além de coberturas de pomares (telas antigranizo) podem ceder diante do acúmulo de neve. No caso das telas, recomenda-se que sejam retiradas ou fechadas para evitar acúmulo. Para galpões e residências, o uso do sal agrícola vai ajudar a derreter a neve acumulada, evitando maiores prejuízos.
Procure o extensionista
No caso de dúvidas, a recomendação é sempre procurar o extensionista da Epagri em seu município. Ele vai poder esclarecer e orientar com mais precisão. Para ver os contatos dos escritórios da Epagri, clique aqui.
Autores
Angelo Mendes Massignam, gerente da Epagri/Ciram
Carlos Otavio Mader Fernandes, coordenador do Programa Pecuária
Darlan Rodrigo Marchesi, gerente do Departamento Estadual de Extensão
Donato Lucietti, coordenador do Programa Grãos
Everton G. Della Giustina, coordenador do Programa Aquicultura e Pesca
Sergio Neres da Veiga, coordenador do Programa Fruticultura
Rodrigo Durieux da Cunha, gestor da Divisão de Estudos Apícolas
Paulo Francisco da Silva, coordenador do Programa Olericultura
Juliane Garcia Knapik Justen, coordenadora do Programa Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Informações para a imprensa
Gisele Dias, jornalista
(48) 3665-5147 / 9989-2992