Em Santa Catarina, a incidência da cigarrinha-do-milho, inseto-vetor das doenças denominadas de enfezamentos na cultura do milho, tem ocorrido de forma generalizada em todas as regiões e com danos econômicos variáveis na safra 2020/2021. As macrorregiões mais afetadas são o Meio-Oeste, Oeste, Extremo-Oeste, Planalto Norte e Planalto Serrano. O dano varia com a época de plantio e a variedade de milho plantada, entre outros fatores.
Essa constatação tem sido registrada por extensionistas da Epagri e técnicos de cooperativas, de empresas de assistência técnica e de agropecuárias. A equipe de extensão do Programa Grãos da Epagri compilou esses dados e apresenta um relato da situação atual nas principais regiões do Estado.
Regiões de Chapecó e Xanxerê
Nessas regiões a incidência da doença aconteceu de forma generalizada com destaque para severidades em lavouras semeadas em setembro, de altitudes menores de 500 metros, de baixa infiltração no solo e problemas de compactação. A planta passou por um estresse muito grande por déficit hídrico no início da safra, permitindo a entrada da doença do enfezamento e a disseminação e proliferação do vetor de forma rápida.
Pode-se observar a campo diferenças de severidade de ataque de acordo com a tolerância do cultivar e ou híbrido semeado. Nas semeaduras mais tardias e de segunda safra, a pressão da doença se intensificou, mas relata-se que as aplicações de inseticidas a cada cinco a sete dias têm reduzido um pouco a população do inseto vetor.
Regiões de Campos Novos e Concórdia
As duas regiões são distintas em termos de altitude, solo, características de manejo e exploração de áreas agrícolas. O ataque da cigarrinha-do-milho na cultura ocorre de forma generalizada manifestando sintomas diferentes de acordo com o híbrido infectado. Em alguns materiais, os sintomas são severos a ponto de causar tombamento generalizado e morte precoce de plantas. Em outros, os sintomas surgem em algumas folhas e manifestação de colmos com redução de entrenós, causando redução do potencial produtivo das plantas.
A incidência e severidade do problema varia de acordo com o híbrido, manejo da lavoura, altitude da região e período da janela de plantio. Nas regiões com janela de plantio maior, onde o agricultor utiliza a área com pastagem no inverno e cultiva o milho no verão, são percebidos maiores incidência e severidade de sintomas.
No caso de Campos Novos, onde a altitude é maior e o plantio é concentrado nos meses de setembro e outubro, as infecções são reduzidas e os sintomas são menos severos, assim como os prejuízos. No município de Ibicaré, região de menor altitude, onde o produtor utiliza área para pastagem cultivada de inverno e milho no verão, a incidência e severidade nos híbridos suscetíveis são significativas. Em direção ao Oeste, os sintomas continuam se manifestando com maior intensidade. Há relatos de que os produtores recorreram a atitudes extremas, utilizando-se da gradagem total da área cultivada com milho na busca de uma semeadura de soja nos municípios de Jaborá, Vargem Bonita e Xavantina. Nas regiões onde o plantio da safrinha ocorre com frequência, espera-se uma redução de área ou uso desenfreado de inseticidas na busca pelo controle da cigarrinha, bem como o cultivo de híbridos tolerantes.
Regiões de Lages e São Joaquim
O enfezamento da cultura do milho está presente em praticamente todos os municípios destas regiões com diferentes graus de severidade. Relata-se a ocorrência de perdas severas nos municípios de Anita Garibaldi, Campo Belo do Sul, Cerro Negro, Lages, Bom Retiro e São José do Cerrito. Nos demais municípios há apenas relatos de ocorrência e com menor severidade. O controle químico tem sido dificultado devido ao estágio de desenvolvimento da cultura no momento, segundo informações dos técnicos municipais. Também há relatos de diferenças na incidência e severidade dos danos de acordo com o cultivar ou híbrido implantado.
Regiões de Canoinhas e Mafra
A ocorrência da cigarrinha na cultura do milho e os consequentes danos decorrentes das doenças transmitidas por esse inseto-vetor estão generalizadas por toda a região do Planalto Norte, o que deverá ocasionar grandes perdas econômicas. Vários municípios da região relataram perdas consideráveis, sendo que na maioria ficaram entre 5 e 30%, com exceção de Irineópolis, onde a situação é mais preocupante. Há relatos de perda total de lavouras, mas a grande maioria são perdas parciais. É bem evidente no campo a diferença de ataque em função dos cultivares plantados. Em áreas para silagem, agricultores tiveram que antecipar a colheita, o que diminuiu a qualidade da silagem produzida.
Informações repassadas por técnicos das cooperativas mostram que onde foi realizado um controle mais intenso com duas a três aplicações de inseticidas no início do ciclo, os danos foram menores. Na região não foi possível identificar a relação da incidência da cigarrinha com a época de plantio ou stress hídrico sofrido no início do desenvolvimento da cultura. Os danos se intensificaram com o excesso de chuvas, causando tombamento de plantas e alta incidência de grãos ardidos.
Em Irineópolis, os levantamentos iniciais mostram que mostra que cerca de 50% das áreas de milho do município estão afetadas (cerca de 1,5 mil hectares). Desses, estima-se que 30% das lavouras tenham perda total (cerca de 450 ha). O restante da área afetada, que soma 70% (1.050 ha) sofrerá uma redução de aproximadamente 50% na produtividade.
Região de Rio do Sul
Pode-se verificar a campo diferenças de severidade de acordo com o cultivar/híbrido semeado, manejo da lavoura e época de implantação. Nas semeaduras mais tardias e de segunda safra a pressão da doença está se intensificando. A estimativa, até o momento, quanto à área atingida no Alto Vale do Itajaí é de 5%, em torno de 2,5 mil hectares. As maiores incidências da cigarrinha-do-milho têm ocorrido nos municípios de Ituporanga e vizinhanças.
Regiões de Joinville e Itajaí
Há registros recentes no município de Rodeio onde algumas lavouras apresentaram sintomas severos, levando a morte das plantas em questão de poucos dias.
Regiões de Criciúma e Tubarão
Há constatação da presença da cigarrinha na região de Criciúma principalmente nos municípios mais ao Sul do Estado, como Jacinto Machado e Timbé do Sul. Entretanto, não foram detectados danos significativos causados pelos enfezamentos nas lavouras de milho até o momento. Na região de Tubarão não há registro de ocorrência do problema.
Regiões de São Miguel do Oeste e Palmitos
Nas regiões mais próximas ao rio Uruguai, os efeitos são mais visíveis nas últimas lavouras da 1ª safra. Possivelmente isso resultará em fonte de inóculo e ampliação da população de cigarrinhas com potencial de perdas grandes para a 2ª safra de 2021. Além disso, se o manejo integrado não for adotado, o potencial impacto na 1ª primeira safra de 2022 pode ocorrer.
Nas regiões mais próximas da fronteira com o Paraná, onde se realizou uma semeadura mais tardia, o problema tem sido bastante grave na primeira safra. Além disso, tem-se o grande potencial de danos para as próximas safras. O manejo da praga nas lavouras vem sendo executado através das aplicações semanais de inseticidas.
Regiões de Videira
O problema existe com graus de severidade diferenciados e dependentes da suscetibilidade dos híbridos usados e da época de semeadura. Os municípios como Arroio Trinta, Iomerê, Tangará e Timbó Grande relatam ocorrência, mas com danos sem muita expressão, embora alguns produtores estejam lavrando suas lavouras para ressemeadura.
Para os municípios de Curitibanos e municípios vizinhos, há estimativas de danos próximos a 20% da produção esperada. Nesses municípios também houve perdas totais em algumas lavouras que foram lavradas e/ou gradeadas para novas semeaduras. As lavouras semeadas mais cedo são as mais afetadas.
Estratégias de enfrentamento da praga
Para enfrentamento do problema e atenuação dos danos provocados pela cigarrinha-do-milho, a Epagri propõe que sejam realizadas ações estratégicas com o envolvimento de instituições de pesquisa, assistência técnica, cooperativas, entidades representativas do setor e produtores de milho.
O coordenador estadual da área de extensão do programa Grãos da Epagri, engenheiro-agrônomo Donato Lucietti, destaca como principais estratégias a capacitação de técnicos e produtores, com conscientização sobre ações regionais de manejo integrado, inclusive incluindo a eliminação de plantas de milho “tiguera”; pesquisa com relação à tolerância dos diferentes híbridos ou cultivares; monitoramento das áreas de cultivo; proposição de redução da janela de semeadura; incentivo ao tratamento de sementes e uso consciente dos inseticidas nas pulverizações.
Leia mais sobre as recomendações aqui.
Informações e entrevistas: com coordenadores de extensão rural do Programa Grãos em cada Unidade de Gestão Técnica da Epagri, listados a seguir:
– Regiões de Chapecó e Xanxerê: Marcelo Bassani, fone: (49) 3382-2085
– Regiões de Campos Novos e Concórdia: Eduardo Briese Neujahr, fone: (49) 3541-0748
– Regiões de Lages e São Joaquim: James Rodrigo Smaniotto, fone: (49) 3289-6410
– Regiões de Canoinhas e Mafra: Donato João Noernberg, fone: (47) 3627-4183
– Região de Rio do Sul: Sílvia Mara Zimmermann, fone: (47) 3526-3084
– Regiões de Joinville e Itajaí: Hector Sílvio Haverroth, fone: (47) 3461-1525
– Regiões de Criciúma e Tubarão: Douglas George de Oliveira, fone: (48) 3529-0311
– Regiões de São Miguel do Oeste e Palmitos: Elvys Taffarel, fone: (49) 3631-3225
– Região de Videira: Gilmar Carlos Michelon Dalla Maria, fone: (49) 3412-3071
Informações para a imprensa: Isabela Schwengber, fone (48) 99167-3902