A falta de chuva em 2020 impactou de forma positiva na produção de uva de mesa: os frutos estão com mais qualidade, visto que o clima seco contribuiu para a sanidade dos parreirais, e a grande quantidade de dias quentes proporcionou o amadurecimento prematuro dos cachos, antecipando a colheita em 10 a 15 dias em 2021. As informações são do pesquisador André Luiz Kulkamp de Souza, gerente da Estação Experimental da Epagri em Videira (EEV).
Segundo ele, o volume de produção deve ficar dentro da média. “O diferencial será a qualidade, que promete ficar acima da média. Teremos uvas doces e bonitas. Com menor quantidade de chuva, os parreirais ficaram mais sadios e demandaram menos pulverizações, pois a maioria das doenças da cultura precisa de umidade para se desenvolver e nesta safra não encontrou essa condição. O excesso de chuva também faz com que o produtor colha a fruta antes dela atingir o grau de maturação ideal para evitar o apodrecimento dos cachos, e isso também interfere na qualidade”, ressalta o pesquisador.
Essas informações são confirmadas pelo viticultor de Videira Edson Antonio Grando, que começou a colheita com 10 dias de antecedência, no dia 10 de janeiro. Segundo ele, a fruta está com cor mais acentuada e com maior teor de açúcares, o que melhora o preço de venda das variedades destinadas à produção de suco.
O pesquisador da Epagri explica que o auge da colheita em Santa Catarina acontece entre janeiro e fevereiro, período em que são colhidas as chamadas uvas de mesa, de variedades mais rústicas e que caracterizam o maior negócio vitivinícola do estado. A principal variedade é a Isabel, seguida da Bordô e da Niágara, que têm a maioria da produção transformada em suco ou vinho de mesa no Meio Oeste, mais precisamente no Alto Vale do Rio do Peixe, a maior região produtora. Os principais municípios produtores são Videira, Pinheiro Preto, Tangará e Caçador. Os maiores compradores da fruta catarinense são os estados de São Paulo e a região Nordeste.
Produção catarinense
Santa Catarina é o quarto produtor nacional de uva de mesa, com cerca de 50 mil toneladas anuais, atrás do Rio Grande do Sul, Pernambuco e São Paulo. Segundo o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa), o valor bruto da produção (VBP) no estado, ou seja, o valor bruto recebido pelos agricultores pela venda de suas produções, é de R$ 55 milhões. Depois da maçã, a uva é a segunda fruta de clima temperado com maior participação no VBP em SC.
A cultura envolve cerca de 2,2 mil agricultores familiares e uma área plantada de 3,5 mil hectares. O Alto Vale do Rio do Peixe responde com 60% da produção estadual. “Esses números se referem à produção comercial. Mas é importante ressaltar que o cultivo de uva tem um papel social e cultural muito forte entre os imigrantes italianos, que plantam para autoconsumo, tanto in natura como em vinho, processado em suas propriedades”, diz o pesquisador André.
A família de Edson Grando faz parte dessas estatísticas. O agricultor cresceu entre os parreirais e se diz apaixonado pela viticultura, atividade herdada do avô, que no passado veio do Rio Grande do Sul para cultivar a uva em Videira. “A cultura vale a pena porque a produção é estável e o mercado está sempre aquecido. É mais rentável se comparar com outras frutas”, afirma o Edson, que também se dedica ao cultivo de ameixa e pêssego, mas a uva é a atividade principal, desenvolvida por ele, esposa e filho, com assistência técnica da Epagri. Em 2018 ele aderiu a um programa municipal de incentivo à vitivinicultura e aumentou seu pomar de uva de 4 para 7 hectares. Sua média de produção está entre 25 a 30 toneladas por hectare.
Segundo a Epagri/Cepa, a viticultura está presente em mais de 73% dos municípios catarinenses. Em Santa Catarina predomina a produção de vinhos de mesa e sucos, mas nos últimos anos houve incremento na produção de vinhos finos nas regiões de altitude, o que está relacionado à tendência de aumento de consumo de vinhos finos no Brasil. Também está crescendo a produção de vinhos espumantes, o que acompanha a evolução de consumo em todo o País. Verifica-se, ainda, importante aumento na produção de suco de uva.
A produção de uvas destinadas para a produção de vinhos finos de altitude está no Planalto Serrano e a colheita é mais tardia, entre março e abril. Outro negócio catarinense é a uva Goethe, produzida no Sul de SC, e colhida no período de final de dezembro a final de janeiro. Essas uvas, ao contrário do restante do estado, tiveram sua colheita atrasada em alguns dias.
Epagri aposta em novas variedades e novos produtos
O gerente da Estação Experimental em Videira informa que a pesquisa da Epagri tem novidades para o setor: lançamento de variedades de uva resistentes a doenças e com perfil para vinhos. “Nossa aposta é em uma vitivinicultura de qualidade e com menor custo de produção. Não é a única, mas a principal, pois agrega mais valor para os agricultores familiares”, diz André.
O avanço da produção comercial de uva em Santa Catarina se deu a partir do trabalho pioneiro da EEV. Como resultado da pesquisa daquela unidade, foram desenvolvidos métodos de como plantar, quais as variedades recomendadas para o estado, qual o manejo correto, como elaborar os vinhos etc, tecnologias repassadas aos agricultores pelas equipes de extensão rural. “Atualmente, três estações experimentais da Epagri desenvolvem pesquisas com uva, cada uma na especialidade da região: Videira, com variedades americanas, híbridas e viníferas, São Joaquim, com a uvas finas de altitude, e Urussanga, com a Goethe”, explica o gerente André.
Mais informações e entrevistas: André Kulkamp de Souza, pesquisador e gerente da Estação Experimental da Epagri em Videira, fone (49) 99900-0190.
Informações para a imprensa: Gisele Dias, jornalista, pelo fone (48) 99989-2992.
Conheça a pesquisa da Epagri que traz novidades aos produtores de uvas e promete alavancar o segmento no mercado.