A Epagri desenvolveu uma plataforma para monitorar a favorabilidade da ferrugem da soja baseada nas condições da temperatura e umidade relativa do ar e da duração do molhamento foliar. Conhecida como ferrugem asiática e causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, esta é uma das principais doenças da cultura no Brasil, que pode acarretar a desfolha precoce e atrapalhar a completa formação dos grãos com consequente redução na produtividade. Com essas informações antecipadas, o agricultor pode tomar decisões mais assertivas e sustentáveis no campo.
As informações de favorabilidade climática da doença são originadas a partir de cálculos feitos com os dados das estações meteorológicas. A elas são adicionadas informações da coleta de esporos da ferrugem asiática realizada a campo. Esporos são pequenas estruturas que as plantas, bactérias ou fungos liberam para se reproduzirem. Se eles caírem em locais com condições apropriadas, se rompem e dão origem a novos seres. Para o desenvolvimento da ferrugem asiática é necessário que exista a planta hospedeira (soja), o esporo viável do patógeno e condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do esporo (doença). Sem a presença de um desses fatores a doença não se manifesta.
“A união das duas informações dá mais segurança aos produtores e pode levar ao manejo mais eficiente da doença, com a utilização mais equilibrada dos defensivos”, avalia o pesquisador da Epagri/Ciram Wilian da Silva Ricce. Segundo o extensionista da regional da Epagri em Canoinhas, Donato João Noernberg, a ação é desenvolvida para que a aplicação de fungicida ocorra quando realmente for necessária e não de maneira calendarizada e preventiva como vem acontecendo, fazendo que muitos agricultores apliquem cinco ou até seis vezes o fungicida durante o ciclo da cultura.
Para o pesquisador Hamilton Justino, essa iniciativa abre as portas para implementar o monitoramento para outras pragas e doenças, como por exemplo moscas da frutas, Sigatoka da bananeira e tantas outras de importância para Santa Catarina que são alvos dos trabalhos de pesquisa e de extensão da Epagri.
Todas as informações coletadas são atualizadas diariamente e estão disponíveis na plataforma Agroconnect, que é sistema de monitoramento e difusão de avisos e alertas agrometeorológicos desenvolvido pela Epagri/Ciram.
Coleta de esporos da ferrugem da soja
O monitoramento dos esporos da ferrugem asiática vem sendo realizado em lavouras na região do Oeste de SC, Planalto Norte e Campos Novos desde setembro de 2020, quando iniciou safra a 2020/2021. Para isso foram instalados coletores de esporos por meio de uma parceria da Epagri entre os produtores, a Unoesc e a equipe de técnicos da Epagri que atuam no Projeto Soja nas referidas regiões.
O extensionista da Epagri de Xanxerê, Marcelo Henrique Bassani, explica que esses coletores são muito eficientes para identificar a ocorrência de esporos da ferrugem asiática. Eles foram construídos com cano de PVC (100mm) vazado e contam com uma lâmina de vidro com cola em seu interior para que sejam capturados todos os elementos que o vento carrega, como é o caso dos esporos. A cada semana as lâminas são trocadas e levadas para laboratório para verificação da existência ou não de esporos da ferrugem da soja.
A tecnologia foi implementada nas regiões pelos extensionistas e pesquisadores da Epagri que atuam no Projeto Soja, através de uma parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) e Embrapa Soja, que há vários anos trabalham com um modelo parecido e com excelentes resultados. “Com o projeto espera-se que ao longo do tempo o número de técnicos e agricultores engajados com a tecnologia aumente de acordo com observação dos resultados obtidos”, afirma Donato.
O monitoramento dos esporos também pode ser visualizado no Agroconnect. Ao entrar na plataforma, basta selecionar a atividade agropecuária “soja” e já estará ativa a camada “monitoramento de esporos”. Os dados serão atualizados semanalmente até a segunda quinzena de março de 2021.
Produção em Santa Catarina
A soja ganha cada vez mais espaço nas lavouras de Santa Catarina. Segundo levantamento da Epagri/Cepa, as lavouras ocupam mais de 686 mil hectares, avançando sobre as áreas antes ocupadas com milho, feijão e pastagens. A última safra catarinense registrou 2,29 milhões de toneladas colhidas. No estado, o grão é cultivado em 16.849 propriedades rurais, com a produção gerando uma receita de R$ 2,8 bilhões, representando 8,2% no Valor Bruto da Produção Agropecuária estadual. As regiões de Xanxerê, Canoinhas e Curitibanos concentram 60% da produção catarinense de soja.
Para a safra 2020/21, a estimativa da área total cultivada no estado deve ultrapassar 700 mil hectares e a produção pode chegar a 2,3 mil toneladas. Lembrando que a produtividade desta safra foi afetada pela longa e intensa estiagem em Santa Catarina.
Segundo Donato, a Epagri retomou as ações de acompanhamento técnico da soja em função da grande importância que a cultura vem obtendo no cenário econômico mundial, atraindo pequenos e médios agricultores. “O mercado oferece uma diversidade grande de insumos ao agricultor que, atraído por promessas de melhoria na produtividade, amplia seus custos de produção e corre o risco de que a receita obtida com a venda da oleaginosa não cubra os custos de produção. Nosso desafio é reduzir a dependência com insumos externos mantendo o nível de produtividade da cultura e as condições ambientais”.
Mais informações e entrevistas:
Marcelo Henrique Bassani, extensionista rural da Epagri Regional de Xanxerê, pelo fone (49) 99971-9072.
Donato João Noernberg, extensionista rural da Epagri regional de Canoinhas, pelo fone (47) 99173-2057
Informações para a imprensa: Gisele Dias, jornalista, fone (48) 99989-2992