A alta incidência de cigarrinha-do-milho na safra 2020/2021 está preocupando produtores de milho de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que temem pelo impacto da praga na produtividade da cultura. Leandro do Prado Ribeiro, entomologista e pesquisador do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar da Epagri (Epagri/Cepaf), explica que a principal preocupação é com a transmissão de microrganismos causadores das doenças do complexo de enfezamento (enfezamento-pálido, enfezamento-vermelho e virose-da-risca), uma vez que esse inseto atua como vetor desses agentes fitopatogênicos para a cultura. “As perdas ocasionadas pelas doenças do complexo de enfezamentos podem chegar a mais de 90%, especialmente em lavouras cultivadas com híbridos suscetíveis a tais doenças”, esclarece o entomologista.
O pesquisador explica que baixas populações da cigarrinha-do-milho sempre estiveram presentes nos milharais das principais regiões de cultivo de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, especialmente na segunda safra (“safrinha”), e que os danos diretos decorrentes da sucção de seiva são significativos apenas em altas infestações. Porém, os levantamentos realizados nesta safra pela Epagri e colaboradores constataram, com base em testes moleculares, uma alta incidência de insetos com a presença dos patógenos (molicutes e vírus) associados ao seu sistema digestório, o que acendeu um alerta amarelo sobre os potenciais impactos para as produções catarinenses e gaúchas.
Milharais atacados pelo complexo de enfezamentos apresentam como sintomas a redução do porte das plantas e da área foliar, o multiespigamento, a redução da altura de inserção da espiga e a má formação de espigas e grãos, o que afeta diretamente o rendimento das lavouras. Além disso, aumenta consideravelmente o quebramento de colmo e o tombamento de plantas, assim como a incidência de outros patógenos oportunistas causadores de podridão do colmo e da espiga. “A severidade desses sintomas é influenciada pela suscetibilidade do híbrido, época de infecção das plantas e temperatura do ambiente”, informa Leandro.
Manejo
Segundo o pesquisador, apenas o controle químico do inseto-vetor na pós-emergência da cultura não tem sido suficiente para a redução dos danos ocasionados pelas doenças transmitidas pela cigarrinha-do-milho. Ele diz que é necessário adotar outras estratégias de manejo de forma integrada em um contexto regionalizado, entre elas a eliminação de plantas espontâneas de milho no período de entressafra (“milho tiguera”), além de evitar cultivos adjacentes ou em áreas próximas de lavouras com a incidência do complexo de enfezamentos.
O entomologista recomenda ainda utilizar híbridos tolerantes aos patógenos transmitidos pela cigarrinha-do-milho, sempre buscando diversificar as variedades ou híbridos cultivados. Também é aconselhável evitar o cultivo de outras plantas hospedeiras nas proximidades das lavouras de milho que podem servir de abrigo para sobrevivência da praga que, apesar de se multiplicar apenas no milho, utiliza de outras espécies (especialmente Poaceae) como fonte de alimentação e abrigo. Outra recomendação do pesquisador é utilizar sementes tratadas com inseticidas sistêmicos, de modo a proteger as plantas nas fases iniciais de desenvolvimento.
“Embora os níveis de eficácia dos produtos registrados não sejam totalmente satisfatórios, o manejo em pós-emergência da cultura é imprescindível na constatação da presença da praga no período crítico da cultura, que são os primeiros 30 a 40 dias após a emergência”, argumenta o pesquisador. Ele recomenda, inicialmente, associar o manejo de cigarrinha-do-milho com aplicações direcionadas para o manejo de percevejos, com duas aplicações sequenciais de inseticidas registrados com intervalos de 5 a 7 dias, iniciando na fase de “milho palito”. “Feito isso, recomenda-se o monitoramento constante da presença e distribuição da cigarrinha-do-milho na lavoura, como subsídio para tomada de decisão quanto à necessidade de aplicações complementares”, relata Leandro, ressaltando que as condições de temperatura, umidade e vento necessárias para uma boa aplicação deverão ser criteriosamente respeitadas.
As informações sobre a presença, impactos e métodos de monitoramento e manejo da praga estão sendo disseminadas pelo pesquisador da Epagri. “Desde setembro foram realizadas capacitações das equipes de extensionistas da Epagri e de técnicos de cooperativas como CooperAlfa, CooperItaipu e Copérdia, para esclarecer sobre o problema e disseminar as boas práticas de manejo dos enfezamentos e da cigarrinha-do-milho”, descreve ele, que também está liderando ações de monitoramento e manejo em nível regionalizado, envolvendo todo o setor produtivo da cultura.
Informações para a imprensa
Gisele Dias, jornalista, pelo fone (48) 99989-2992
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