No Dia da Árvore, conheça a bracatinga
  • Post publicado:21 de setembro de 2020
  • Categoria do post:Mídia

Você conhece a bracatinga? Já viu um bracatingal? Se sua resposta a essas perguntas for não, fique tranquilo. Apesar de se tratar de uma espécie nativa do Brasil, a bracatinga é uma árvore pouco conhecida e seus usos são pouco difundidos.

Bracatinga é nativa do Brasil, apesar de pouco conhecida

Mesmo não conhecendo a bracatinga, é provável que você tenha visto ou pelo menos ouvido falar de eucalipto e pínus, duas árvores abundantes em Santa Catarina, embora sejam exóticas. Essas duas espécies são amplamente usadas pela indústria nacional para produzir madeira, papel, móveis, energia e tudo mais que se possa imaginar ser feito com uma árvore.

A bracatinga, coitada, em face da forte concorrência das árvores estrangeiras, caiu em desuso. Não pense que ela tem menos qualidades que as “primas” do exterior. Ela serve para tudo que o eucalipto serve, muitas vezes com vantagens. Mas perdeu espaço para as exóticas nas últimas décadas.

Vantagens

Tássio Dresch Rech, pesquisador da Epagri, explica que o uso comercial da bracatinga ainda é restrito em Santa Catarina. De modo geral, ela é usada para produzir melato, mel, carvão, lenha, escoras de construção civil e tutores para tomateiro. Ela é capaz de produzir madeira branca ou vermelha, mais ou menos densa, que poderia ser usada na indústria moveleira, para confeccionar assoalho ou parquê, entre outros fins.

Onde o bracatingal se instala, nascem outras espécies

Além do valor comercial, a bracatinga tem importante papel ambiental. Isso porque ela tem a capacidade de retirar o nitrogênio da atmosfera e fixá-lo no solo, enriquecendo-o, além de incorporar grande quantidade de material orgânico. Tássio explica que onde o bracatingal se instala crescem outras espécies nativas, permitindo a recuperação da mata, ao contrário do pínus, que coloniza e toma conta da área.

Outra vantagem da bracatinga sobre as exóticas que é ela se autossemeia, já que a partir do quarto ano de vida a planta começa a soltar sementes. Pode ser cultivada em terrenos irregulares, muito comuns no Estado, e tem manejo simples, pois aceita solo pobre e resiste ao clima frio e a eventos climáticos mais intensos, sofrendo menos quedas com o vento. Também exige pouco combate a formigas.

O ciclo de vida curto é mais um diferencial. O eucalipto exige entre 12 e 30 anos de cultivo antes de ser abatido para fins mais nobres. O pínus precisa de tempo superior a 12 anos para ser cortado para uso madeireiro. Já a bracatinga pode ser usada a partir dos 5 anos de idade e com 8 está completamente madura para seus diversos usos comerciais. “Ela produz lenha madura com 7, 8 anos, não tem nada parecido com isso”, descreve o pesquisador da Epagri.

Carvão, melato e leite

Em Santa Catarina a bracatinga praticamente acompanha a região da araucária. As maiores concentrações acontecem nos extremos norte e sul do Planalto e no Vale do Rio do Peixe. Ela só não ocorre de forma natural no Oeste e no Litoral. Apesar disso, o município de Biguaçu, na Grande Florianópolis, é um dos poucos que vêm se beneficiando do potencial econômico do carvão produzido a partir da bracatinga.

Luiz Toresan, analista do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), explica que Biguaçu criou um órgão ambiental municipal e deu condições para que agricultores legalizassem sua produção de bracatinga. Lá a produção de carvão vegetal se dá na roça de toco, sistema que vem desde os tempos da agricultura nômade. Ele preconiza uso alternado do solo entre floresta e cultivo. “Em Biguaçu, o carvão sempre foi encarado como subproduto; o negócio principal era produzir farinha, feijão, mandioca, banana. Agora que conseguiram legalizar a atividade é que eles passaram a ficar interessados porque agregam valor, e o produto passou a ter uma participação importante na renda”, relata Toresan.

Melato é produzido pelas abelhas a partir da secreção açucarada excretada pela cochonilha

O melato é outro produto da bracatinga de alto valor agregado. Trata-se de um tipo diferente de mel, produzido pelas abelhas a partir da secreção açucarada excretada pela cochonilha, que é um inseto que ataca a casca da árvore. Em Santa Catarina ele é mais produzido no Alto Vale do Itajaí e no Planalto Sul, e a maior parte é exportada para a Europa, sobretudo Alemanha, que se interessa principalmente por suas qualidades terapêuticas. A Epagri se uniu a outras instituições para conquistar uma Indicação Geográfica (IG) para o produto.

Por fim, a bracatinga ainda pode ajudar a aumentar a produção de leite. O sistema silvipastoril prevê a plantação de árvores no entorno do pasto para fornecer sombra às vacas. Com mais conforto, os animais produzem mais e o agricultor pode utilizar a árvore quando chegar a idade do abate. Em Santa Catarina o eucalipto é a principal cultura utilizada para esse fim, mas a bracatinga pode substituí-la com amplas vantagens.

Gisele Dias, jornalista