A Associação de Apicultores e Meliponicultores de Quilombo (AAMQ), no Oeste Catarinense, tem previsão de fechar 2020 com 90 toneladas de mel comercializados. Essa venda é viabilizada através do fracionamento para venda direta ao consumidor e de carregamentos de mel em tambores para entrepostos e exportadores do estado e do País. O próximo carregamento do produto – com cerca de 17,5 toneladas – segue para um comprador de Brasília no dia 25 de agosto.
Segundo um dos líderes do projeto de apicultura na Epagri, extensionista rural no município vizinho de Formosa do Sul, Vilmar Franzen, o mel produzido por eles tem tido excelente aceitação no mercado devido à qualidade e ao sabor. Esses diferenciais são alcançados graças à organização e à profissionalização dos produtores e à diversidade da flora nativa na região, que resulta em méis de sabores muito peculiares, como os provenientes de eucalipto, vassourinha, uva-japão, angico, rabo-de-bugio, dentre outros. “A florada dessas espécies acontece em épocas distintas, permitindo a coleta do produto na primavera, com predominância de méis de cores mais claras, e antes do inverno, com méis mais escuros”, explica Vilmar. Já as vendas se concentram nos meses de inverno.
Profissionalização e assessoria de Epagri
Segundo o presidente da AAMQ, Julcemar Toazza, a preferência dos consumidores é pelo mel mais claro, que tem o sabor mais suave. “Para ter a garantia de ofertar o que o mercado quer, contamos inclusive com equipamentos que identificam a cor e a umidade do mel”, afirma. Esse exemplo mostra o quanto os apicultores atuam de forma profissional. O extensionista Franzen, que atende o grupo, afirma que isso é resultado das diferentes capacitações oferecidas pela Epagri, como dias de campo e cursos de qualificação em práticas higiênicas, controle de qualidade do mel, manejo das colmeias para aumento de produtividade, entre outros.
Franzen lembra, também, que a região tem características produtivas e mercadológicas que precisam ser compreendidas para melhor auxiliar o apicultor na tomada de decisão, como a distância dos principais comerciantes e exportadores de mel do estado e do País e a sazonalidade na comercialização. “Muitas vezes o produtor colhia o produto e simplesmente não conseguia vender por falta de comprador. Para minimizar esses problemas, a Epagri orienta os agricultores a embalarem o mel diretamente em baldes e tambores com sacos plásticos próprios para mel com o propósito de conservar melhor as características de sabor e aroma. Junto a isso, a classificação do mel por teor de umidade e cor ofereceram diferenciais na comercialização direta ao consumidor e aos entrepostos do país e exportadores favorecendo a negociação”, relata o extensionista.
“Chegamos até aqui por conta de parcerias importantes e a Epagri é a principal delas”, diz Toazza. “Os produtores se apropriaram das capacitações oferecidas também por outras instituições, como Senar e Sebrae, além de contar com o apoio das prefeituras municipais, especialmente de Quilombo, para transformarem floradas e paixão pelas abelhas em oportunidades de negócio para produtores dedicados que buscam produtividade e competência na produção”, complementa o líder associativista. Ele cita ainda a grande contribuição no aumento de produtividade que a tecnologia da substituição das abelhas rainhas, difundida pela Epagri, têm proporcionado aos apicultores.
Controle de qualidade
A associação foi fundada em 1992 e conta com 40 famílias associadas. Com a assistência técnica da Epagri, o grupo construiu uma unidade de extração e beneficiamento dos produtos das abelhas – prioritariamente do mel, – e conta com o Serviço de Inspeção Federal (SIF), que é o Selo que identifica o sistema de controle do Ministério da Agricultura para atestar a qualidade dos produtos comestíveis de origem animal e permitir a comercialização no território nacional. Essa habilitação só é possível graças aos convênios com o Sebrae, Cidema, instituto Saga e prefeitura, que viabilizam as análises necessárias ao processo de inspeção e o pagamento dos profissionais que devem acompanhar o processo, como engenheiros de alimentos e veterinários.
Na unidade eles também beneficiam o mel de produtores de associações dos municípios vizinhos, como de Xaxim, Xanxerê, Nova Itaberaba, Pinhalzinho e Abelardo Luz. Para isso Toazza ressalta que o controle é rígido. Os méis recebidos na unidade são analisados quanto à umidade e diferenciados conforme a cor. Antes de ser beneficiado, uma amostra do produto é colhida para análise física, química e microbiológica em laboratório especializado da Universidade Federal de Santa Catarina. “Para ter o SIF, temos um protocolo a seguir para o controle de qualidade em todas as etapas, que vão da colheita do mel, recebimento e embalagem na unidade até o transporte para o consumidor”, explica o presidente da associação.
Comercialização
A venda mais expressiva da Associação de Apicultores e Meliponicultores de Quilombo em termos de volume é para um entreposto de Brasília, que compra o mel catarinense desde 2018. A parceria foi estabelecida por eles em meados daquele ano durante o Congresso Brasileiro de Apicultores realizado em Joinville. “Esses eventos são importantes para os produtores não apenas para capacitação e trocas de experiências, mas também para estabelecer novos negócios”, ressalta o extensionista Franzen.
Para permitir a concretização do negócio, a Epagri entrou em cena novamente para auxiliar na logística e no controle da qualidade do produto. O depósito com capacidade de estocar grandes quantidades fica no município de Formosa do Sul, onde o extensionista de lá consegue acompanhar. Mesmo assim, o grupo teve que se organizar para atender a demanda do novo comprador: Toazza conta que em 2018, por exemplo, havia dificuldade em encontrar transportadora credenciada e com seguro para transporte do mel, que segue nos caminhões em tambores apropriados para alimentos com capacidade de 290 kg cada.
Para esse comprador, em 2018 a Associação intermediou a venda de 15 toneladas. Em 2019 aumentou para 38 toneladas e em 2020 deve fechar em 92 toneladas, com a última remessa prevista para outubro. Segundo Toazza, a procura pelo produto aumentou com a pandemia do Coronavírus devido às propriedades medicinais e nutricionais do produto que ajudam a melhorar a imunidade do organismo.
Os valores por quilo de mel são negociados baseados nos valores de mercado e diferenciados pela cor. O presidente afirma que as vendas para fora do estado têm sido um bom negócio para as associações de apicultores envolvidas. “Apesar de termos um bom consumo no estado, temos uma das melhores produtividades por quilômetro quadrado decorrente da flora que dispomos e especialmente da dedicação e profissionalismo do apicultor catarinense, fazendo com que tenhamos mel para exportação e para outros estados do país”, comemora.
Toazza relata que a produtividade média alcançada pelos apicultores do município gira em torno de 30 kg por colmeia/ano, enquanto a média nacional é de aproximadamente de 15 kg/colmeia/ano. “Já entre os produtores que aplicam as técnicas mais avançadas de manejo, que incluem a troca de rainhas difundida pela Epagri, a produtividade média anual chega 65 kg/colmeia/ano”, relata o presidente. Mesmo assim, os produtores da AAQM contam com a participação do mel de produtores de outras associações para atender os pedidos de compras maiores.
“Junto com outras associações organizamos as cargas. O agricultor faz a venda direta ao comprador, com emissão da nota fiscal no seu município, e recebe o pagamento diretamente em sua conta. Com isso valorizamos o produto em termos financeiros e motivamos a melhoria constante da qualidade do produto e da produtividade. Dessa forma, todos se sentem motivados para melhorar os apiários e ampliar a produção na região”, comemora Toazza. Ele conta, inclusive, que o grupo está analisando proposta de indústria de alimentos que pretende utilizar o mel como ingrediente de produtos diferenciados.
Produção catarinense
Santa Catarina produziu 7,5 mil toneladas de mel na safra 2019/20. O censo agropecuário 2017 do IBGE aponta cerca de 17 mil estabelecimentos agropecuários com apicultura no estado e 300 mil colmeias. Santa Catarina se coloca normalmente entre o terceiro ou quarto maior produtor de mel do Brasil, mas os destaques do produto catarinense são a qualidade e a produtividade.
Segundo a Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (FAASC), a apicultura está presente em 98% dos municípios catarinenses. Os municípios do Oeste Catarinense não estão entre os maiores produtores, mas segundo o chefe da Divisão de Estudos Apícolas da Epagri, Rodrigo Durieux da Cunha, é uma região que vem registrando um aumento considerável na produção, feita prioritariamente por apicultores familiares.
Informações e entrevistas: Vilmar Franzen, extensionista rural de Formosa do Sul. Fone :(49) 98505-9925
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