É pouco provável que as nuvens de gafanhotos que estão no território argentino cheguem a Santa Catarina nos próximos dias. Esta é a avaliação da Epagri, tendo como base modelo desenvolvido por seus técnicos, que simula o deslocamento dos animais, levando em consideração variáveis comportamentais do inseto e medidas climáticas da região. Este monitoramento está sendo usado pela Empresa para manter sua equipe atualizada da situação.
Kleber Trabaquini, doutor em sensoriamento remoto e um dos autores do modelo, explica que existem atualmente duas nuvens, a primeira na província de Ente Rios, que faz fronteira com o Uruguai, e a segunda localizada no norte da Argentina, na província de Chaco.
A nuvem localizada em Entre Rios está a uma distância aproximada 650km da cidade catarinense de Paraíso. “Teoricamente, somente uma condição de dias consecutivos de altas temperaturas, entre 25 a 30°C, e ventos sudeste, favoreceriam a chegada dos insetos a Santa Catarina”, descreve Kleber.
A previsão climática para os próximos dias na região da província de Entre Rios é de temperaturas baixas, próximas de 5ºC. Em alguns dias, como na terça-feira, o frio pode chegar perto de zero grau. A temperatura máxima não ultrapassa os 17°C na maioria dos dias. “O ambiente desfavorece o voo dos insetos, o que deve acarretar um deslocamento mínimo da nuvem”, avalia Marcelo Mendes de Haro, doutor em entomologia e o outro pesquisador da Epagri autor do modelo.
Haro acrescenta que o cenário em Entre Rios favorece o controle dos insetos por tratamento químico, como foi realizado nos últimos dias por técnicos do Serviço Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria (Senasa) em parceria com agricultores locais, resultando em redução da densidade da nuvem. A ação também reduz as chances de deslocamento em direção ao território brasileiro. Apesar da condição favorável, os pesquisadores da Epagri lembram que existe o risco de entrada dos insetos no território brasileiro, através do Rio Grande do Sul, mas destacam que técnicos e agricultores do estado vizinho permanecem atentos à situação.
Já os insetos localizados em Chaco, Norte da Argentina, estão a uma distância de cerca de 850km de Santa Catarina e têm se deslocado aos poucos para o Sul daquele país, colocando em sinal de alerta as províncias de Santa Fé e Corrientes. Nesta região, os insetos encontram um ambiente mais favorável para maiores deslocamentos, devido a temperatura mais elevada na comparação com Entre Rios. Os pesquisadores da Epagri lembram que a nuvem que hoje se encontra em Entre Rios realizou uma rota semelhante aos insetos que estão em Chaco.
Sobre o inseto
O entomologista da Epagri explica que a dieta do Schistocerca cancellata varia de acordo com a disponibilidade do alimento. Eles podem se alimentar de diversas gramíneas, tais como milho, cana-de-açúcar, pastagens em geral. Nesta época do ano, a preocupação maior para a agricultura catarinense seria com cereais de inverno, como trigo e aveia. Além disso, hortaliças em geral, soja, mandioca e citros também fazem parte do cardápio destes insetos. Haro destaca a capacidade de adaptação alimentar da espécie, o que permitem que ataque outras culturas agrícolas em caso de escassez de recursos.
De acordo com o entomologista, existe uma relação direta entre a biologia de qualquer inseto e as condições meteorológicas a que eles são expostos. “No caso específico dos gafanhotos, uma somatória de fatores climáticos, como temperatura, umidade do ar, chuvas e ventos favorecem desde a reprodução, até a ocorrência deste fenômeno de formação da nuvem”, descreve Haro.
A temperatura é o primeiro fator que influencia o metabolismo destes artrópodes, determinando a velocidade e voracidade da alimentação e, consequentemente, a eficiência da sua reprodução. Em uma temperatura mais elevada, seu deslocamento também será afetado, sendo maior a chance de iniciarem o voo, inclusive durante a noite, o que, associado com a direção e força do vento, geralmente vai ditar a direção do deslocamento da nuvem de gafanhotos.
“As baixas temperaturas previstas para os próximos dias, com máximas de no máximo 17°C, podem auxiliar na diminuição das atividades biológicas destes insetos, reduzindo a alimentação, deslocamento e a chance de atingirem os territórios brasileiro e catarinense”, pondera o pesquisador.