A Epagri finalizou a primeira parte da modelagem hidrodinâmica do estuário do rio Camboriú, dentro de uma pesquisa que busca avaliar a qualidade da água e seus efeitos nos cultivos de moluscos da região. O objetivo da modelagem hidrodinâmica foi simular a circulação de água dentro do estuário do rio Camboriú e da sua enseada.
“De forma simples, podemos dizer que a modelagem nos permite saber para onde a água está indo e, consequentemente, para onde a poluição que vem das sub-bacias está sendo levada pela água”, explica Luis H. P. Garbossa, pesquisador do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de SC (Epagri/Ciram).
Na imagem divulgada pelos pesquisadores, as cores representam o aumento da velocidade da água escoando no estuário. “Dentro da modelagem hidrodinâmica, a primeira etapa é conseguir que o modelo represente bem a circulação de água. Isso é o que conseguimos agora”, diz Garbossa. A próxima etapa será adicionar parâmetros de qualidade de água para entender como ocorre a dispersão dos contaminantes, considerando as características físicas da região, como profundidade, relevo do fundo do mar, velocidade de circulação da água, entre outros.
Tomada de decisões
A modelagem hidrodinâmica permite criar cenários confiáveis para apoiar a tomada de decisões. Com esse modelo, os especialistas são capazes de avaliar o risco de contaminação das áreas de cultivo de moluscos da região. “Podemos responder a perguntas como: se a poluição aumentar, o que acontece no estuário? Se chover muito, até onde a poluição vai se espalhar? Se aumentar o lançamento de esgoto no verão, os cultivos de moluscos estarão comprometidos? Em quais sub-bacias é preciso atuar para reduzir a contaminação em um determinado trecho do estuário?”, exemplifica o pesquisador.
Modelagem matemática
De forma complementar, modelos matemáticos também estão sendo desenvolvidos para identificar e descrever correlações simples entre parâmetros ambientais, como as chuvas ou a radiação solar na região, com os níveis de poluição na água. “As equações matemáticas desenvolvidas para descrever essas correlações permitem fazer previsões de forma rápida. Por exemplo, utilizando os dados de chuva e radiação solar coletados em tempo real pelas estações meteorológicas da Epagri, seria possível prever também em tempo real a qualidade da água na região”, explica Robson Ventura de Souza, pesquisador do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Epagri/Cedap) responsável por esses modelos.
Histórico
A primeira etapa dessa pesquisa iniciou em 2018, quando os pesquisadores da Epagri coletaram, a cada 15 dias, 10 amostras da água do estuário e do mar da região. O trabalho, encerrado em maio de 2019, resultou na coleta de 240 amostras sob condições ambientais diversas: diferentes estações do ano, períodos de chuvas intensas e de estiagem, no início da subida e da descida da maré, entre outras. A segunda fase, de modelagem hidrodinâmica e estatística, iniciou com a organização desses dados coletados em campo e de outros obtidos com outras instituições referentes aos últimos três anos.
Características únicas
A região do Rio Camboriú, onde se destacam as atividades de turismo, aquicultura e navegação, é de especial interesse para estudos ambientais devido às suas características. “O estuário do rio Camboriú está sob influência de bacias hidrográficas com área agrícola, assim como ocupação urbana muito adensada e ainda apresenta áreas próximas extremamente preservadas. A variação de população entre o inverno e o verão devido ao turismo também permite acessar situações muito singulares. É um local único para estudos ambientais em que se pretende levar em consideração as mais diversas formas de ação antrópica de forma integrada”, detalha o pesquisador Luis Garbossa.
O projeto “Estudo da qualidade de água do estuário do rio Camboriú sob influência antrópica e seus efeitos no cultivo de moluscos” é financiado pelo CNPq. Os próximos passos serão a validação dos modelos para contaminação por microrganismos e para nutrientes. A conclusão do estudo está prevista para este ano, com a publicação de artigos científicos.
Informações e entrevistas Luis Hamilton Pospissil Garbossa, pesquisador da Epagri/Ciram, pelo fone (48) 3665-5162 – (48) 9626-7999.