A raça Flamenga faz parte de um grupo de bovinos chamados europeus continentais. A raça foi selecionada primariamente para produção leiteira, mas, no processo de seleção, nunca se descartou a necessidade de aproveitamento da carne do bezerro macho. Hoje a Flamenga é considerada uma raça de dupla aptidão, que permite explorar a produção de leite e de carne.
A Raça Flamenga chegou a Lages no início do século passado, quando alguns touros da raça foram levados ao antigo Posto Zootécnico, atual Estação Experimental da Epagri. A intenção do Ministério da Agricultura da época era fazer melhoramento do gado crioulo que estava na região e tinha baixa produtividade. Mais tarde, um rebanho de 40 vacas puras, vindas da Argentina, foram incluídas no rebanho. Os animais mostraram boa adaptabilidade às características de clima e de produção forrageira da região, além de produção de leite e carne de qualidade.
Esse rebanho permanece na Estação Experimental de Lages (EEL). O objetivo é manter a genética desse material para servir de base para trabalhos de pesquisa e melhoramento da raça. O pesquisador Vilmar Francisco Zardo conta por que a Epagri aposta na raça: “Como as vacas são boas produtoras de leite, tanto em quantidade quanto em qualidade, e têm essa característica de ter um terneiro de boa qualidade, nós percebemos que produtores de queijos artesanais e queijo serrano podem optar por essa raça e, além do leite para produzir o queijo, ter o terneiro para fazer o comércio”.
Produção de carne
Como o rebanho Flamengo já tem um histórico de avaliação da parte reprodutiva e de produção e qualidade de leite, os pesquisadores estão avaliando o ganho de peso dos terneiros, o cruzamento com raças comuns e a avaliação desse tipo de cruzamento em termos de qualidade de leite e produção de carne.
“Nós resolvemos fazer essas avaliações porque ainda faltam informações sobre o potencial de produção de carne dos machos que são produzidos com a raça Flamenga. O que a gente está pesquisando é se essa carcaça com sangue Flamengo vai atender a exigência dos frigoríficos e a demanda do consumidor”, explica Vanessa Ruiz Favaro, pesquisadora da EEL.
Resultados
Nos experimentos que avaliaram a qualidade da carne, os animais, todos meio-sangue Flamengo, tiveram ganho médio diário de 1,3 kg/animal. Com esse ganho de peso, eles atingiram o peso de abate aos 26 meses de idade.
De acordo com a avaliação dos pesquisadores, foram abatidos animais jovens e com peso elevado. O peso final de abate foi de 570kg, com rendimento de carcaça de 53%. Esses índices são todos desejados pela indústria frigorífica. O peso da carcaça após o abate dos animais foi de 300kg, enquanto os frigoríficos exigem 210kg como peso mínimo da carcaça.
Pensando em atender a demanda do mercado consumidor, a equipe também analisou a qualidade da carne com testes de maciez. Em laboratório, é medida a força necessária para cortar um feixe de fibras musculares – índices menores de 4,5 indicam carnes macias. Nesse experimento, a carne meio-sangue flamenga obteve índice 3, mostrando com boa aceitação por parte dos consumidores.
Na avaliação dos pesquisadores, o único ponto que ainda precisa ser melhorado é a deposição da gordura nas carcaças. Os animais meio-sangue Flamengo avaliados apresentaram a gordura mínima exigida pelos frigoríficos, mas sem uma distribuição uniforme na carcaça. “Esse é um ponto que vamos fazer mais pesquisas para melhorar”, planeja Vanessa.
Qualidade do leite
O pesquisador Maicon Lorena Pinto fala sobre a qualidade do leite Flamengo: “Quando nós avaliamos proteína e gordura, que é o que importa, tanto por questões de qualidade do leite quanto por pagamento por qualidade, a vaca Flamenga tem o leite muito parecido com o da vaca Jersey. É muito mais interessante para o laticínio do que uma vaca Holandesa”.
Os pesquisadores da EEL estão avaliando a possibilidade de aproveitar as características desse duplo propósito da raça e identificar famílias ou linhagens dentro do plantel da Epagri, que é o único puro do país, que sejam mais apropriadas para corte. Essa seleção já foi feita com algumas raças, como é o caso da Simental e do Pardo Suíço, que dentro da mesma raça têm linhagens especializadas para leite ou para corte.
“É um patrimônio que a Epagri tem. Os trabalhos com esse núcleo genético vêm acontecendo por mais de 60 anos e nós temos condições de colocar à disposição do agricultor catarinense um material genético tão bom quanto de outras raças e eventualmente em condições bem mais acessíveis”, conclui Maicon.