Se produzir sem agrotóxicos é importante, usar os insumos de forma racional é outro caminho essencial para obter alimentos seguros. Essa é a proposta da Produção Integrada (PI). “A PI não abre mão de adubos químicos e agrotóxicos. Ela preconiza uma série de normas para garantir o uso racional dos insumos, usando apenas produtos recomendados para cada cultura e respeitando períodos de carência, e trabalha boas práticas de produção para ter alimentos sem resíduo”, resume Sérgio Veiga, coordenador do programa de fruticultura em extensão da Epagri.
A Epagri pesquisou, desenvolveu e adaptou tecnologias para a PI de duas hortaliças de peso no Estado: cebola e tomate. Nas áreas de fruticultura e grãos, fez o mesmo com a banana, a maçã e o arroz.
Mas para ter a produção certificada, o produtor precisa ir além das tecnologias: se adequar à legislação ambiental e trabalhista, adotar o sistema de rastreabilidade da PI, ter um responsável técnico pela lavoura e fazer análise de resíduos, por exemplo. Hoje há apenas 155 produtores de maçã certificados em PI no Estado. Mas as tecnologias que a Epagri desenvolveu área estão disseminadas pelas lavouras.
Alerta para doenças
Uma delas é o manejo integrado de pragas e doenças, em que o produtor só aplica agrotóxicos quando a infestação atinge um índice de dano econômico para a cultura. Sistemas de monitoramento e alerta disponíveis na plataforma Agroconnect avisam quando as condições de temperatura, umidade do ar, quantidade de chuva e outros fatores predispõem o ataque de pragas e doenças.
Para a produção de tomate, a Epagri disponibiliza o alerta para quatro doenças: requeima, mancha bacteriana, pinta-preta e septoriose. Na região de Caçador, cerca de 100 tomaticultores recebem mensagens pelo celular quando há necessidade de fazer alguma aplicação. “Em anos de La Niña, que são mais secos, os agricultores que seguem os alertas aplicam aproximadamente 60% menos fungicidas do que os que produzem no sistema convencional e seguem um calendário de aplicações semanais”, conta Guilherme Mallmann, pesquisador da Estação Experimental de Caçador. A Epagri estima que cerca de 150ha de lavouras de tomate dessa região usem alguma tecnologia da PI.
Cebola mais sustentável
Dentro do Sistema de Produção Integrada de Cebola (Sispic), as pesquisas da Epagri na área de manejo de pragas e doenças formaram um pacote de tecnologias para racionalizar o uso de agrotóxicos. Ele inclui o sistema de aviso para míldio e queima das pontas via Agroconnect, o uso alternado de princípios ativos para combater doenças e um sistema de manejo de tripes – a principal praga da cebola no Brasil.
Essas soluções permitem reduzir em, pelo menos, 51% o uso de agrotóxicos em relação a uma lavoura conduzida no sistema convencional. “Essas tecnologias têm sido empregadas em 80% da área de cebola no Estado, com impacto econômico anual de R$1,6 milhão”, informa Francisco Gervini de Menezes Júnior, pesquisador da Estação Experimental de Ituporanga.
A Epagri também desenvolveu tecnologias para racionalizar o uso de fertilizantes. Elas são adotadas por 44% dos cebolicultores catarinenses e têm permitido reduzir em pelo menos 30% o uso desses insumos, gerando economia anual de R$20 milhões em relação ao cultivo convencional, com impacto econômico anual de R$51 milhões para o Estado.
Valdemar da Silva, de Alfredo Wagner, tem 8 hectares de área produtiva, mas só planta cebola em 4 hectares por vez. “Na área que está em pousio eu faço quatro plantios de adubos verdes por ano, para só depois voltar a plantar cebola em cultivo mínimo, mexendo apenas na linha de plantio”, conta o agricultor, que colhe 100 a 120 toneladas por ano.
Valdemar já reduziu o uso de adubo de base em mais da metade: a média caiu de 25 a 30 sacas para 8 a 12 sacas por hectare. O uso de nitrogênio, antes feito em duas aplicações de 300 a 400 quilos por hectare, agora fica na média de 100 a 130 quilos por hectare.
O manejo dos agrotóxicos também é criterioso. “A gente tem que usar o defensivo de maneira consciente e controlada. Passo só produtos registrados para a cebola, seguindo à risca as orientações da receita. Mas com o solo descansado e fértil, a planta pega menos doença e a gente aplica menos produto”, diz.
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