Tratamento de efluentes transforma resíduo tóxico dos engenhos de farinha de mandioca em adubo
  • Post publicado:22 de outubro de 2019
  • Categoria do post:Mídia

A produção de farinha de mandioca é tradição na região sul de Santa Catarina. Mas essa tradição estava ameaçada por conta do impacto ambiental que a atividade causava. Para solucionar esse problema a Epagri juntamente com outras instituições, elaborou um plano de tratamento de resíduos dos engenhos.

Antigamente toda propriedade cultivava a mandioca e tinha um pequeno engenho para a farinha. Com a industrialização, os engenhos foram automatizados e o volume produzido aumentou consideravelmente. A crescente produção gerou renda, emprego e desenvolvimento para a região, porém, também provocou um problema ambiental.

Tanques revestidos de geomembrana

É que o líquido extraído da mandioca na prensagem durante o processo de fabricação de farinha, a manipueira, é um líquido perigoso. Além de apresentar altos teores de matéria orgânica, o líquido contém ácido cianídrico, venenoso e nocivo a alimentação humana e animal.

Ao ser descartada à céu aberto ou em cursos d’água a manipueira pode causar vários danos ambientais. Como os produtores de farinha não tinham um local adequado para esses resíduos, muitos engenhos fecharam as portas.

Em busca de uma solução para esse problema a Epagri, juntamente com outras instituições, elaborou um modelo de tratamento de efluentes dos engenhos de farinha, que possibilita o descarte da manipueira e outros resíduos sem causar impacto ambiental.

O engenheiro agrônomo da prefeitura de Sangão, Marco Antônio Remor, explica como o tratamento acontece: “Dentre as alternativas de tratamento dos efluentes está o uso de tanques revestidos com lona de geomembrana. A manipueira é deixada no tanque por cerca de 15 dias o que promove uma grande redução do HCN (ácido cianídrico). Depois desse tempo de repouso, o líquido poderá ser lançado nas lavouras como fonte de adubação.”

Outro rejeito gerado nos engenhos é a chamada água de lavação, que é a água usada para a limpeza e retirada da casca das raízes de mandioca. Para que possa ser devolvida ao meio ambiente sem causar danos, esse resíduo também passa por um processo de tratamento.

“A primeira etapa é a etapa a seco, onde se separa a maior parte do material orgânico seco da água de lavação. A segunda etapa é composta por 2 caixas onde o líquido é filtrado e decantado, assim a areia e a argila presentes na água são separados. A terceira etapa é uma lagoa de tratamento não revestida, onde esse efluente já empobrecido da matéria orgânica, e sem essa quantidade de areia ou argila fica mais um tempo em repouso” – explica Emerson Evald, extensionista da Epagri do município de Jaguaruna.

Tanque distribuidor aplicando a manipueira, depois de tratada, na lavoura
Tanque distribuidor

Antes de colocar em prática o projeto, na propriedade do seu José Luiz, a manipueira era aplicada na lavoura logo depois de retirada da prensa.

“A Epagri, principalmente, nos orientou e disse que ia dar problema se não tomássemos uma providencia. Com a orientação dos técnicos e o recurso do Programa SC Rural, nós construímos aqueles tanques para a manipueira decantar e depois de 15 dias aplicamos na lavoura. É um ótimo adubo.” Para viabilizar o uso de fertilizantes nas lavouras, os agricultores adquiriram, também com recurso do programa SC Rural, um tanque distribuidor.

Além da assistência técnica aos engenhos, a Epagri trabalha com toda a cadeia produtiva da mandioca.

A Epagri acompanha a produção da farinha de mandioca desde a parte inicial. São feitas orientações sobre coleta de solo para análise de solo antes do plantio, adubação, seleção das manivas e tratamento fitossanitário.  A Epagri trabalha também com as farinheiras, com toda a parte de legalização, tanto a sanitária quanto a ambiental.

“Agora com essa questão ambiental resolvida, os agricultores e donos de engenho podem ter acesso a crédito e tranquilidade para trabalhar a qualquer momento.” – conta a extensionista rural da Epagri de Sangão, Lilian Gonçalves dos Santos.

Os proprietários de engenho comemoram: “A partir do momento que você tem uma documentação certa na mão, você trabalha mais tranquilo!