Uma parcela cada vez maior dos produtos à venda em supermercados não sai de grandes fábricas. Sai de indústrias instaladas no meio rural, conduzidas por famílias de agricultores que profissionalizaram seu trabalho a ponto de concorrer com grandes marcas e garantir seu lugar nas gôndolas e nos carrinhos de compras.
Essas indústrias mostram que, porteira adentro, é possível se diferenciar, garantir alta qualidade, inovar e desenvolver produtos. Elas têm como trunfo a própria identidade, o caráter artesanal, a receita da bisavó, o modo de fazer que passou por gerações e hoje ganha preferência do consumidor frente a produtos processados ou padronizados. “Há uma tendência do mercado de voltar ao artesanal. O consumidor está mais aberto para esse segmento, que está virando um grande nicho de mercado”, analisa Daniel Uba, coordenador do programa de Gestão de Negócios e Mercado da Epagri.
Esse movimento tem crescido em Santa Catarina a ponto de levar agroindústrias familiares a faturamentos de dar inveja a muitos empresários. “Agricultores estão ganhando espaços cada vez mais importantes dentro dos supermercados. A hora em que o empreendedor percebe que tem vantagem competitiva por ser agricultor familiar, ele começa a se abrir para o mercado e crescer”, destaca Uba.
O trabalho da Epagri na área de agroindústrias iniciou na década de 1990 com o programa Profissionalização de Agricultores, viabilizado com apoio da Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ). Hoje a Empresa dá suporte desde o ponto zero, quando a família não tem nem ideia de que produto fabricar, passa pela profissionalização e legalização daqueles que já têm um negócio, e vai até as empresas que estão consolidadas e querem ganhar mercado, fazendo contato com compradores via feiras e rodadas de negócios.
Esse esforço ajuda a impulsionar um setor que faturou R$249 milhões em 2016, de acordo com levantamento do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa). A cifra corresponde ao resultado de 1.387 agroindústrias sob posse ou gestão direta de agricultores familiares, pescadores artesanais e maricultores de Santa Catarina.
A maior fatia do faturamento, R$48 milhões, corresponde a 268 empreendimentos que trabalham com frutas e derivados. Na sequência, 136 agroindústrias que processam leite faturaram R$30 milhões, e 357 empreendimentos de massa e panificação somaram outros R$30 milhões em vendas. Há ainda número considerável de empresas nos segmentos de aipim e mandioca, cana-de-açúcar, hortaliças, aquicultura e pesca, carnes, ovos, grãos, mel e palmáceas.
O número desses empreendimentos vem crescendo. Prova disso é que 35% das agroindústrias do levantamento foram criadas há menos de cinco anos. “Elas são impulsionadas por políticas públicas de acesso ao mercado, como Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Isso abre oportunidade para quem está legalizado”, comenta Daniel Uba.
Mas enquanto alguns negócios começam a decolar, outros já superaram as turbulências do início e ocupam um patamar mais alto.
Leia a reportagem completa na revista Agropecuária Catarinense e conheça casos de sucesso de três agroindústrias familiares que seguem em voo solo e já traçam novas rotas para seus produtos.