É dezembro, o verão está aí! Calor de 35oC, temperatura subindo, céu azul (finalmente), o destino é um só: praia. No entanto, nesta semana os banhistas e surfistas do litoral Sul têm experimentado uma surpresa quando colocam o pé na água. A menos de 48 horas do início oficial da estação mais quente do ano, os termômetros da Epagri em Imbituba registraram a temperatura da água do mar mais baixa de 2023. Pode isso?
A Epagri monitora a temperatura superficial do mar (TSM) na costa catarinense há mais de cinco anos. Os pontos de monitoramento em mar aberto são Itapoá, Balneário Camboriú e Imbituba. Em dezembro de 2023, a TSM média diária oscilou em torno de 26oC no litoral Norte e 23oC no litoral Sul. Porém, no dia 13, aconteceu uma virada. Em apenas seis dias a TSM caiu quase 5oC em Imbituba, registrando uma média diária de 18,5oC no dia 19.
Mas não parou por aí. A TSM média diária é composta por 96 medidas da temperatura da água do mar realizadas por um termômetro mergulhado a uma profundidade de 50cm abaixo do nível da menor maré registrada no local nos últimos 10 anos. Essa disposição do equipamento é importante para evitar que ele não chegue a ficar fora da água em caso de marés muito baixas.
No dia 20, às 05:30h, a temperatura da água do mar em Imbituba chegou a 16,4oC, a menor temperatura da água no ano, considerando um total de mais de 30 mil registros em 2023. Nem no inverno, tampouco no outono, quando a água costuma ser gelada, foram registrados valores de TSM tão baixos em Imbituba em 2023.
O que está acontecendo?
Calma, nem tudo está perdido. Esse fenômeno é comum na região, e é chamado de ressurgência costeira. Ele se caracteriza pelo afloramento de águas frias e profundas em áreas mais quentes e rasas da costa. Na costa catarinense, especialmente no Litoral Sul, as ressurgências são comuns no verão, quando os ventos do quadrante nordeste atuam de forma consecutiva por alguns dias, gerando no oceano uma corrente que empurra as águas superficiais mais quentes para longe da costa, permitindo que águas frias e profundas alcancem a superfície.
Tecnicamente, a ressurgência observada ao longo dos últimos dias no litoral de Santa Catarina está sendo influenciada por um fenômeno climático de larga escala: uma anomalia positiva no Dipolo Subtropical do Atlântico Sul, que na região do Cabo Santa Marta intensifica a ressurgência costeira. Embora tenha um nome complicado, esse fenômeno é muito importante para especialistas em clima e oceanografia, pois o Dipolo Subtropical do Atlântico Sul (DSAS) é o principal modo de variabilidade acoplada oceano-atmosfera, entre a Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e a Pressão ao Nível do Mar (PNM) no oceano Atlântico Sul.
Mas, afinal, 16oC é realmente uma água muito fria para os banhistas? Na verdade não existe uma definição clara e universalmente aceita do que é uma água fria para banhistas e desportistas. O Centro Nacional para a Segurança em Águas Frias, nos Estados Unidos, por exemplo, considera que qualquer água abaixo de 21oC deve ser tratada com cuidado. Essa recomendação é baseada em estudos sobre o impacto da água fria na respiração humana. O choque térmico é especialmente perigoso nos dias quentes e abafados, quando o banhista sai da areia suando direto para um mergulho numa água de 16oC. O Comitê Olímpico Internacional (COI) exige que a água esteja entre 25 e 27,7 oC nas competições de natação.
E o que eu faço agora?
Como a flutuação na temperatura do mar na costa Sul de Santa Catarina é frequente em dezembro e janeiro, os banhistas têm três opções: alugar uma casa no Litoral Norte; reduzir o tempo de banho de mar ao mínimo nesse período; ou consultar o site da Epagri/Ciram para saber os valores reais da temperatura do mar na praia mais próxima. Também é possível conferir no site da Epagri a previsão da temperatura do mar.
Finalmente, é bom lembrar que o fenômeno ressurgência é passageiro. No momento que você estiver lendo esse artigo a água já deve estar de volta às temperaturas esperadas e o banho vai estar ótimo. Aproveite, com atenção!!!
Por: Matias G. Boll, Carlos Eduardo S. Araújo e Argeu Vanz, pesquisadores da Epagri/Ciram.