Por meio da Instrução Normativa nº 18 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), entraram em vigor em março de 2022 as normas técnicas específicas (NTE) para a produção integrada de cebola, desenvolvidas por meio de projeto de pesquisa da Epagri. Trata-se de um conjunto de orientações técnicas atualizadas, que, ao serem aplicadas integralmente pelo produtor, contribuem para o aprimoramento da gestão da propriedade, redução de custos e agregação de valor ao produto, melhorando a renda e diminuindo perdas e desperdícios.
Segundo o coordenador do projeto na Epagri, pesquisador na Estação Experimental de Ituporanga (EEItu), Francisco Olmar Gervini de Menezes Júnior, a publicação da norma é um marco na cebolicultura nacional. “Com ela, o produtor poderá produzir alimento seguro ao consumo humano, ao mesmo tempo em que racionaliza insumos, respeita a legislação ambiental e trabalhista, gera empregos e mercado, e aumenta a rentabilidade da lavoura. Com a produção integrada todos ganham: produtor, consumidor, ambiente e cadeia produtiva”, diz.
Para o gerente da Estação Experimental de Ituporanga, Daniel Pedrosa Alves, a homologação da NTE reforça a importância do trabalho de pesquisa da Epagri. “Com o apoio e os investimentos do Governo Federal e de Santa Catarina, a Epagri tem contribuído para as várias cadeias produtivas do setor agrícola ao gerar informações e tecnologias atualmente aplicadas pelo setor produtivo, o que tem contribuído de forma expressiva para colocar o estado como maior produtor de cebola do Brasil e como referência na produção alimentos”, afirma.
Santa Catarina é o maior produtor nacional de bulbos de cebola, com mais de 8 mil famílias envolvidas na atividade. A cebola é a principal hortaliça cultivada no estado, com 70% da produção concentrada na região do Alto Vale do Itajaí.
O que prevê a Instrução Normativa
As normas técnicas para a produção integrada de cebola estão divididas em 16 tópicos: Gestão da Propriedade; Gestão Ambiental; Organização de Produtores; Material Propagativo; Implantação da Cultura; Nutrição de Plantas; Manejo do Solo e da Cobertura Vegetal; Irrigação; Proteção Integrada da Planta; Colheita e Pós Colheita; Monitoramento de Resíduos; Legislação Trabalhista; Processo de Embalagem; Registro de Informações e Rastreabilidade; Certificação; e Assistência Técnica.
Caso o produtor queira aderir ao sistema de produção integrada, precisa cumprir todas as normas, como o uso racional de insumos e capacitação técnica da equipe. Uma das orientações, por exemplo, recomenda que o produtor deve ter um Plano de Gestão de Resíduos provenientes da lavoura e do lixo, de forma a permitir o processamento (ou reciclagem) e descarte conforme a legislação vigente. Além disso, o agricultor precisa estocar os adubos de forma segura, em local seco e ao abrigo da luz e da água e sem calor excessivo, visando prevenir a contaminação do meio ambiente. “Um diferencial da produção integrada em relação a outros selos nacionais e internacionais de qualidade diz respeito à obrigatoriedade de rastreabilidade e análise de resíduos de agrotóxicos. A adesão é voluntária e poderá ser feita por grupo ou associação de produtores, o que irá baratear os custos com assistência técnica e auditoria”, ressalta o pesquisador da Epagri.
Na instrução normativa estão contidos os referenciais tecnológicos de como produzir a cebola no sistema de produção integrada, um dos pré-requisitos para a certificação e recebimento do selo Brasil Certificado, através do Inmetro, o que valoriza o produto no mercado. A próxima etapa será, através de cursos, a formação de responsáveis técnicos e auditores, os quais serão responsáveis por orientar, acompanhar e auditar as atividades desenvolvidas nas propriedades, com vistas à certificação.
Como funciona o Sistema de Produção Integrada
O Sistema de Produção Integrada de Cebola envolve uma série de técnicas que buscam garantir alimentos seguros para o consumidor. Um dos pilares desse sistema são as Boas Práticas Agrícolas que incluem a rastreabilidade: o produtor, o técnico e o fiscal adotam procedimentos que permitem acompanhar todo o processo produtivo, de forma a certificar a qualidade do que será colhido. Para isso, todas as práticas adotadas na lavoura são registradas em cadernos de campo.
O sistema permite reduzir o uso de insumos como fertilizantes e agrotóxicos e diminuir os custos de produção. Em várias propriedades acompanhadas em Santa Catarina, a produtividade foi cerca de 8t/ha superior à dos cultivos tradicionais. “Não foram encontrados resíduos significativos de agrotóxicos nos bulbos de cebola coletados nas lavouras de produção integrada”, diz Francisco Gervini. O sistema prevê, também, a adoção de práticas de conservação do solo e análise de resíduos.
O projeto na Epagri foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e pelo MAPA. O trabalho foi desenvolvido com apoio da Estação Experimental em Caçador e dos escritórios municipais da Empresa em Alfredo Wagner, Atalanta e Ituporanga, além do Instituto Federal Catarinense/Campus Rio do Sul e Embrapa Hortaliças. O projeto contou com a participação de representantes da Associação Nacional dos Produtores de Cebola (Anace) e de produtores do estado catarinense.
Em 2016 o projeto foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) como uma boa prática para o desenvolvimento sustentável. O trabalho faz parte da plataforma digital de boas práticas da organização.
Mais informações e entrevistas:
Francisco Olmar Gervini de Menezes Júnior, coordenador do projeto na Epagri, fone (47) 3533-8824
Informações para a imprensa
Gisele Dias, jornalista
(48) 3665-5147 / 99989-2992
No vídeo a seguir, conheças os cultivares de cebola desenvolvidos pela Epagri.