Na quinta-feira, 15 de abril, às 14h, a Epagri realiza, em seu canal de capacitação, evento on-line para marcar a passagem do dia nacional de conservação do solo. Nessa tarde, terá palestra de José Eloir Denardin, chefe adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Trigo. Ele vai falar sobre o que é e como se pratica a agricultura conservacionista. A participação é gratuita e aberta a qualquer interessado.
Conservar o solo é uma das maiores garantias de produção agropecuária. Para a Epagri, a preservação desse recurso natural é uma das prioridades e vai além da busca pela produtividade no campo. O pesquisador Leandro do Prado Wildner, do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Epagri/Cepaf), reforça que solo, além de um meio para a produção de alimentos, é importante para a manutenção da vida na terra, pois é um sistema que faz a reciclagem dos nutrientes, é um modificador da atmosfera capaz de alterar o efeito estufa, é o local onde moram milhões de organismos vivos – o que torna o solo também um corpo vivo -, é o meio para a construção de obras de engenharia que beneficiam a vida dos seres humanos e é o sistema de suprimento e purificação da água, recurso natural indispensável à vida.
Diante disso, manter o solo produtivo é uma das prioridades da Epagri, que recomenda algumas práticas de campo para a conservação desse recurso natural. Conheça a seguir algumas delas, que são difundidas aos agricultores familiares pelos técnicos da Empresa.
Sistema Plantio Direto
O Sistema Plantio Direto (SPD) é uma estratégia de exploração de sistemas agrícolas produtivos que recomenda um amplo complexo de processos tecnológicos preconizados pela agricultura conservacionista. Por meio dele, é possível manter as características físicas, químicas e biológicas do solo, garantindo a sua sustentabilidade.
Segundo a coordenadora do programa estadual Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental da Epagri, Juliane Knapik Justen, são seis os princípios básicos do SPD: a mobilização de solo apenas na linha de semeadura ou cova de plantio; a manutenção de resíduos culturais na superfície do solo; a ampliação da biodiversidade mediante a diversificação de espécies cultivadas em rotação, sucessão e/ou em consorciação de culturas; redução ou supressão do intervalo de tempo entre a colheita de uma cultura e a semeadura de outra (processo colher-semear) ou entre o manejo de uma cultura e a semeadura de outra (processo manejar-semear); a manutenção da cobertura permanente do solo através das plantas em crescimento ou de seus resíduos; e, o aporte de material orgânico ao solo em quantidade, qualidade e frequência compatíveis com a demanda biológica do solo.
Juliane complementa que no SPD são recomendados, ainda, o uso de práticas mecânicas ou hidráulicas para o manejo da água de escoamento superficial (terraços, por exemplo), o uso de insumos de forma precisa (agricultura de precisão), o controle de tráfego mecânico, animal e humano sobre o solo agrícola e, entre outras, a adoção do manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas. “O Sistema Plantio Direto de Grãos vem sendo consolidado através do desenvolvimento e difusão de tecnologias desde 1972. Em função do seu grande impacto na agricultura brasileira, seus princípios básicos estão sendo adaptados para outros sistemas de produção. Santa Catarina é o estado pioneiro no desenvolvimento do Sistema Plantio Direto de Hortaliças, o SPDH”, diz ela. A seguir, vamos falar de algumas práticas que fazem parte do SPD.
Solo coberto e sem revolvimento
Uma das formas de ter o solo sempre coberto com palhada é cultivar plantas de cobertura, também conhecidas como adubos verdes. Depois de completar o ciclo vegetativo, elas são derrubadas e ficam sobre o solo, formando uma camada de palha. Na sequência, o plantio das culturas é feito sem revolver o solo. Essas plantas podem ser usadas em qualquer lavoura, sempre em sistema de rotação com as culturas econômicas. As espécies mais utilizadas em Santa Catarina são aveia, nabo forrageiro, azevém, ervilhaca, crotalária, mucuna, tremoço, centeio, milheto e trigo, entre outras.
A presença das plantas de cobertura, tanto vivas quanto na forma de palha, é capaz de evitar a temida erosão do solo. “Elas funcionam como uma camada protetora que evita o impacto direto das gotas de chuva sobre o solo”, explica o pesquisador Leandro. Essas plantas são a matéria-prima para formar a matéria orgânica que promove a estruturação do solo, a retenção de umidade e o aumento da porosidade, permitindo a circulação de água e ar. Também são fonte de nutrientes que são liberados através da decomposição promovida pelos organismos do solo.
A camada de palha funciona como um amortecedor contra o peso excessivo de máquinas, tratores e animais, diminuindo o risco de compactação superficial do solo. As raízes vigorosas de muitas plantas de cobertura também impedem a formação de camadas compactadas no interior do solo. Essas raízes aumentam a porosidade do solo, facilitando a infiltração de água.
Quem vem se beneficiando com os adubos verdes é o agricultor Auri de Oliveira, de Agronômica, que produz noz-pecã há nove anos, sempre consorciada com milho, forrageiras e plantas de cobertura, espécies cultivadas em rotação. Sem revolver o solo, ele já usou nesse período amendoim forrageiro, feijão guandu, nabo forrageiro, aveia, azevém e mais recentemente está experimentando a mucuna, leguminosa importante para fixação biológica de nitrogênio, controle de nematoides, reciclagem de nutrientes, entre outras funções.
Segundo engenheiro-agrônomo Glauco Lindner, da Epagri de Rio do Sul, esse cuidado estimula o desenvolvimento das árvores porque o solo oferece mais nutrientes às plantas, que ainda são consideradas jovens e não atingiram o ápice produtivo. O resultado pode ver visto a campo: a colheita desse ano, que ocorre entre abril e maio, deve chegar a 800kg na área mais antiga, de um hectare. “Vou superar meus vizinhos gaúchos”, diz ele, ao se referir ao Rio Grande do Sul, principal produtor brasileiro. E complementa: “A nogueira-pecã produz pelo menos por 100 anos. Para isso, tenho que cuidar do solo, não é mesmo?”, diz ele.
Rotação de culturas
Fazer a rotação de culturas consiste em alternar as diferentes espécies vegetais na mesma área em determinado espaço de tempo, ou seja, fazer um rodízio das culturas de interesse agrícola. Segundo o pesquisador da Estação Experimental da Epagri em Ituporanga, Claudinei Kurtz, cada espécie tem exigências de nutrientes diferentes e isso acaba evitando a exaustão do solo, além de que e os sistemas radiculares de cada planta amenizam a compactação e melhoram fisicamente o solo.
“A rotação de culturas, inclusive de famílias diferentes, consegue equilibrar e melhorar os atributos físicos, químicos e biológicos do solo”, explica o pesquisador. Kurtz ressalta que o ideal seria voltar com a mesma cultura a cada dois ou três anos. Portanto, a adoção dessa prática prevê planejamento das áreas, como é o caso do cebolicultor Valdemar da Silva, de Alfredo Wagner, que há 20 anos aderiu ao Sistema Plantio Direto de Hortaliças, em um momento crítico para o solo da propriedade, que estava muito degradado.
Valdemar tem oitos hectares de área produtiva, mas só planta cebola em quatro hectares por vez. “Na área que está em pousio eu faço quatro plantios de adubos verdes por ano, para só depois voltar a plantar cebola em cultivo mínimo, mexendo apenas na linha de plantio”, conta o produtor. A produtividade antes do SPDH era de 6 a 8 toneladas por hectare. Hoje o produtor está colhendo de 25 a 32 toneladas de cebola por hectare. A matéria orgânica do solo, que antigamente era de 0,6%, aumentou para 2,5 a 3,0%. Tudo isso aliado à redução de mais de 30% no custo de produção.
De acordo com Kurtz, os trabalhos da Epagri com o Plantio Direto na cebola demonstraram um aumento de produtividade de 15 a 20% da hortaliça, ou seja, de quatro a seis toneladas a mais de cebola por hectare. “Isso permite ao produtor não ter cultivo comercial em determinados períodos usando uma planta para cobertura do solo ou adubação verde, sem perda de renda”, diz o pesquisador.
Outro benefício é evitar a erosão do solo, efeito alcançado com a presença da palhada formada pelos restos da cultura anterior, já explicado anteriormente. Neste sistema, Kurtz explica que há um aumento de 50% na infiltração de água no solo coberto em relação ao solo descoberto. “Essa água não vai provocar erosão, não vai assorear o rio e será benéfica para cultura em momentos críticos de seca”. Outra vantagem da rotação de culturas destacada pelo pesquisador é a economia entre 30 e 50% em fertilizantes em relação ao sistema convencional, já que a eficiência de uso dos nutrientes do solo é maior. “Isso sem contar a economia de não revolver solo”, diz.
Terraceamento
A prática do terraceamento é uma grande aliada do trabalho de conservação do solo e da água que a Epagri realiza nas propriedades rurais do Oeste Catarinense. Capazes de proteger a lavoura da erosão nas chuvas intensas e armazenar água no solo para períodos de estiagem, os terraços de base larga já somam cerca de 1.000ha em 80 propriedades rurais da região. Eles são uma das práticas orientadas pela Empresa dentro de um projeto que envolve ações integradas de conservação do solo e da água, conduzido nas regiões de Xanxerê e Chapecó.
A metodologia introduzida pela Epagri se chama Terraço for Windows. Ela foi desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e validada pela Embrapa de Passo Fundo e agora também pelo grupo de trabalho da Epagri. “Esse método tem como base a declividade do terreno, a infiltração de água no solo e o histórico de chuvas da região. O terraceamento visa captar e armazenar água no solo e evitar a erosão e a degradação do terreno, com o objetivo de obter maiores ganhos de produtividade e rentabilidade das lavouras, além dos ganhos ambientais e sociais”, explica o engenheiro-agrônomo da Epagri Marcelo Henrique Bassani, da Gerência Regional de Xanxerê.
Os terraços são construídos em nível, de modo a concentrar toda a água da chuva dentro da lavoura. Essa água se infiltra; parte vai para o lençol freático abastecer os mananciais e outra parte fica armazenada no próprio solo para atender a demanda das culturas. O tamanho do camalhão (crista de terra) é calculado para que cada metro linear de terraço seja capaz de receber até dois mil litros de água, em média. “Essa água fica armazenada no solo. Cerca de 30% dela as plantas são capazes de usar em épocas de estiagem”, destaca Juliano Gonçalves Garcez, extensionista da Epagri em Caxambu do Sul.
Outra vantagem é a economia de adubo. Os terraços evitam que a água escoe pela lavoura, carregando adubo e matéria orgânica. Nas propriedades onde o sistema está consolidado, os nutrientes ficam seis vezes mais concentrados no solo.
O agricultor Carlos Adão Zarembski, do município de São Domingos, encontrou nos terraços agrícolas a solução para controlar a erosão nas lavouras de soja e milho, que ele cultiva em sucessão às culturas de inverno como o trigo e aveia. Com assessoria da Epagri, em 2016 ele construiu oito terraços de base larga, ocupando metade da área. “Antes a água corria na lavoura. O barro que formava afundava caminhão. Agora percebo como a água entra com mais facilidade no solo”, comemora Carlos Adão, que afirma não sentir os efeitos da estiagem.
O pesquisador Leandro explica que a cobertura do solo é eficiente para eliminar a erosão causada pela chuva, mas não é tão eficiente para controlar a erosão causada pelo escoamento da água sobre o solo. “Por isso devemos associar sempre o plantio direto com o uso dos terraços ou práticas semelhantes”, complementa.
Políticas públicas
O governo do Estado, através da Secretaria da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural (SAR), desenvolve políticas públicas específicas para fomentar o bom uso, manejo e conservação do solo, que são executadas pela Epagri. São duas ações específicas voltadas para esse recurso natural: o kit Solo Saudável, que integra o Programa Terra Boa, e o Cultivando Água e Protegendo o Solo, que integra o programa Prosolo e Água.
A ação Cultivando Água e Protegendo o Solo é direcionada a agricultores que tenham enquadramento em três regras do Pronaf: renda, mão de obra e exploração do imóvel. Não será preciso cumprir a quarta regra do Pronaf, o que significa que poderão acessar o projeto todos os agricultores com área de terra superior a quatro módulos fiscais, desde que atendam às outras três exigências.
O limite é de R$ 15 mil por família, para serem investidos em isolamento e recuperação de mata ciliar, proteção e recuperação de nascentes, terraceamento e cobertura de solo. O prazo de pagamento é de até cinco anos e as parcelas pagas em dia têm até 30% de abatimento.
O kit Solo Saudável visa facilitar o acesso dos agricultores catarinenses a sementes de plantas de cobertura e insumos, colaborando para melhorar a qualidade do solo e a produtividade das culturas agrícolas. Para 2021 são mil Kits Solo Saudável disponíveis com sementes de adubos verdes e insumos para a melhoria do solo. Cada kit custa mil reais e o produtor tem dois anos de prazo para pagamento, com parcela anual sem juros, ou caso o produtor optar em adiantar o pagamento da segunda parcela para a mesma data de vencimento da primeira, este terá um desconto de 60% sobre o valor da segunda parcela.
O agricultor interessado em acessar as políticas públicas deve procurar o escritório da Epagri em seu município.
Serviço
O que: Evento on-line alusivo ao dia nacional da conservação do solo
Quando: quinta-feira, 15 de abril, das 14h às 16h
Onde: no canal de capacitações da Epagri: https://youtu.be/L17PJhWg3Pw
Informações e entrevistas: com Juliane Garcia Knapik Justen, coordenadora do programa estadual Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental da Epagri, pelo fone (47) 98803-0377
No vídeo a seguir, conheça a experiência do agricultor Valdemar da Silva, de Alfredo Wagner, que há 20 anos produz cebolas utilizando o Sistema Plantio Direto de Hortaliças (SPDH).