Santa Catarina já conquistou a Indicação Geográfica (IG) para o vinho dos vales da Uva Goethe e a banana de Corupá. Outros cinco produtos estão a caminho desse reconhecimento: dois deles, o queijo artesanal serrano e a erva-mate do Planalto Norte Catarinense, estão com o processo em avaliação no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Os outros três – o mel de melato da bracatinga, os vinhos de altitude e a maçã Fuji da região de São Joaquim – cuja delimitação geográfica foi entregue neste mês, estão com o dossiê em elaboração.
Um produto com IG é único. Significa que ele só tem aquelas propriedades porque sua elaboração é influenciada por características ambientais ou culturais de determinada região. A obtenção da Indicação Geográfica requer a confecção de uma série de estudos que vão compor um dossiê. A Epagri atua como animadora dos processos de obtenção das IGs em Santa Catarina e é responsável por fazer as delimitações geográficas, entre outras ações. Esse trabalho é realizado em parceria com instituições como o Sebrae, universidades e os produtores.
Vales da Uva Goethe
Quando os imigrantes italianos produziram as primeiras garrafas do vinho Goethe em Santa Catarina, há mais de 120 anos, não podiam imaginar que aquela bebida, fruto de tradições antigas adaptadas às condições do Brasil, se tornaria tão importante. O produto ganhou identidade própria nos vales dos rios Urussanga e Tubarão, no Sul do Estado, e em 2011 se transformou na primeira Indicação Geográfica de Santa Catarina.
Os fatores climáticos e geográficos do território, somados às características culturais dos povoadores vindos do norte da Itália, onde os vinhos brancos aromáticos são tradicionais, formaram a tipicidade do vinho Goethe da região. O registro do INPI abrange Urussanga, Pedras Grandes, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Nova Veneza, Içara, Treze de Maio e Orleans.
Banana de Corupá
A banana produzida nos municípios de Schroeder, Corupá, Jaraguá do Sul e São Bento do Sul é reconhecida como a mais doce do Brasil. Ela detém a Indicação Geográfica na modalidade Denominação de Origem. Além de ter o diferencial do sabor, ela também se destaca pela cultura e pelo modo de produção dos bananicultores. O sabor se deve à combinação de clima, relevo e temperatura. Com tempo maior para se desenvolver e amadurecer, a banana acumula mais minerais e açúcares.
Com a Indicação Geográfica, os bananicultores da região podem utilizar o selo em seus produtos, desde que sigam um regulamento de produção, que dá aos consumidores garantia da qualidade diferenciada da fruta. O processo para certificação foi baseado em dossiês técnicos e científicos da Epagri/Ciram e da UFSC, com estudos sobre as condições naturais, a cultura e a história da região de Corupá, além das características da banana produzida nesses municípios.
Queijo artesanal serrano
A história do queijo artesanal serrano remonta a 1730, com o início do tropeirismo em Santa Catarina e o surgimento das primeiras propriedades rurais na Serra Catarinense. O produto reúne características únicas e o “saber-fazer” que atravessou o Atlântico com os portugueses. A região produtora abrange 18 municípios de Santa Catarina e 16 do Rio Grande do Sul.
Mais de 2 mil famílias catarinenses produzem esse queijo. Ele é feito com leite de vacas de raças de corte ou mista alimentadas basicamente com pastagens nativas e tem maior percentual de gordura. A produção ocorre em propriedades que se dedicam à pecuária de corte, com métodos tradicionais, mão-de-obra familiar e reduzido padrão tecnológico.
A busca pela Indicação Geográfica iniciou em 2009 por iniciativa da Epagri e de uma rede de instituições. O dossiê foi entregue ao INPI para solicitar a IG na modalidade Denominação de Origem (DO).
Erva-mate do Planalto Norte
Essa erva-mate se diferencia pelo sistema de produção. A planta é cultivada historicamente em meio à floresta de araucária, de forma harmônica, sem desmatamento. O sistema de cultivo, aliado às características de solo e clima, confere ao produto um sabor leve, que agrada ao consumidor brasileiro e de outros países, como o Uruguai.
Em 2013, a Epagri se uniu a outras instituições para pleitear uma Indicação Geográfica para esse produto. O dossiê já foi entregue e aguarda decisão do INPI. Quando concedida, a IG vai beneficiar mais de 2 mil produtores de 17 municípios, entre eles Campo Alegre, Canoinhas, Mafra, Porto União, Itaiópolis e Irineópolis. A erva-mate tem um papel importante de complementação de renda nas comunidades rurais locais e a concessão vai alavancar a comercialização do produto.
Mel de melato de bracatinga
No Planalto Sul e no Planalto Norte de Santa Catarina, a associação entre a bracatinga, um inseto chamado cochonilha e as abelhas resulta num produto único: o mel de melato. Ele é fabricado pelas abelhas a partir do líquido açucarado que a cochonilha produz ao se alimentar da seiva da bracatinga. O mel de melato é escuro, levemente menos adocicado que o de origem floral e possui maior quantidade de minerais, além de propriedades medicinais. Em Santa Catarina, 95% da produção desse mel é exportada.
A região delimitada pelos pesquisadores da Epagri para essa Indicação Geográfica compreende 111 municípios catarinenses, que representam 45% da área do Estado. A IG vai se estender por 8,5% do território do Paraná e 7% da área do Rio Grande Sul. Entre os critérios definidos para delimitar essa IG estão a ocorrência da bracatinga com cochonilha, a altitude superior a 700 metros, o clima, o uso e a cobertura do solo. A Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de SC (FAASC) é a proponente da IG.
Vinhos de Altitude
Para a IG dos vinhos de altitude de Santa Catarina, a Epagri delimitou 23,2% da área do Estado onde a altitude é superior a 900 metros. São ao todo 41 propriedades, espalhadas por 32 municípios. Além das caraterísticas ambientais, essa Indicação Geográfica leva em conta sobretudo a notoriedade das regiões produtoras.
Desde 2008 a Epagri conta com um cadastro das vinícolas produtoras de vinhos de altitude no Estado. Esse levantamento foi atualizado em 2013 e novamente em 2019 para apoiar a delimitação da IG, que foi solicitada pela Vinho de Altitude – Produtores e Associados.
Maçã fuji
Os municípios de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Painel, Urubici e Urupema estão na área delimitada pelos pesquisadores da Epagri para compor a Indicação Geográfica da maçã fuji da Região de São Joaquim. Esses municípios produzem uma maçã Fuji que se destaca por ser mais vermelha, maior e com formato perfeito. Isso porque eles acumulam mais horas de frio, o que deixa o desenvolvimento da fruta mais lento e uniforme.
Além das horas de frio, serviram como critérios para delimitação dessa IG a altitude superior a 1.100 metros e outras características ambientais que unificam os municípios compreendidos. A IG é uma demanda da Associação dos Produtores de Maçã e Pera de SC (AMAP).
Assista aqui: A banana mais doce do Brasil
Assista aqui: Queijo Artesanal Serrano
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